terça-feira, 7 de abril de 2020

estranhamento

uma completa estranha
assim é
como me olham,
me furam os olhos, 
assim rangem o meu nome

não que seja mera coincidência 
até faz sentido quando 
me olho,
mas percebo meu olhar 
estar contaminado

não que eu fosse uma pessoa corriqueira
e tivesse o rosto estampado 
ou vivesse na moda
do seu tempo, claridade

não que eu não fosse diferente 
daqueles exilados,
dos que no mar 
cantam que doce seria morrer aqui

dos que vivem no/pelo limite 
daquilo que corta, traduz
e se alonga 
uma regra secreta
a si mesma

mas é que eu esperava
pelo menos 
metade do entendimento,
de matéria

dos selvagens, dos amáveis, dos brutos
das bruxas, dos covardes, 
dos palavreiros, dos coitados, 
dos sarados, dos sagrados, dos esquálidos, 
dos inchados, dos ascos, etc

esperava que meu rosto
não se diluísse
na memória dos lembrados 
e que aos cultos não fosse indiferente
o meu intendimento, o calor da busca

mas assim como os loucos 
ou os vadios, os judiados 
ou quem quer que seja 
eu sou uma completa estranha 
e o que me estranha é sermos tão comuns 

Nenhum comentário:

Postar um comentário