domingo, 26 de abril de 2020

entre paredes

as vagas abrem aos domingos
recebo notificações 
de que estou livre
para trabalhar e para morrer
musicalizo os poemas 
para que reste da voz 
o pouco de vitamina precisa 
para sustentar o dia 
deito na cama que já retem
as curvas do corpo
eu achava que as ruas 
seriam mais maleáveis 
ou percorridas 
no auge da minha vida
que as palmas brindariam 
mas agora dissimulam o choro
com o álcool do gel 
mas ainda assim 
preciso de mãos para rezar 
e o terço em que fui crucificada  
enquanto cria da bondade
que eu nunca vi no mundo 
ainda permaneço 
nesse silêncio de paredes 
que não suspeitam 
da minha solidão

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