precisei ir à padaria
antes das seis,
não posso esbarrar com ninguém
mas sorria à quem
embrulhava o meu pão
sinto as mãos de quem sova
quando mordo o café da manhã
e meu coração amolece
meu peito doura
tenho que me precaver
e cuidar daqueles que me abraçam
estou sem cor
e preciso de sol
fico na janela enquanto fumo
deito e esqueço do dia
que preciso entregar meu trabalho
e inscrever meu poema
tiveram dias
em que eu esqueci que dormia
e pensei ter vivido
e pensei que tudo acabaria
o medo, a ânsia
a vontade de acordar
mas ainda sinto mais lento
tudo ao redor, tudo
e ainda me sinto impotente
ainda tudo é doloroso
e solitário aqui de cima
os beijos que não se calam
as mãos que se despedem
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