Noite de segunda-feira
A lâmpada do quarto queimou de repente, procurei o amor debaixo da cama, na muda de roupas sujas, na fila infinita do Banco do Brasil.
"Segura na fé e rema" Que fé eu teria depois de ver dentro de um prato um boi assado, no asfalto um indigente atropelado e essas manchas roxas em minha pele? Estou hospedando em minha fala um sotaque nordestino.
Que Deus eu devo procurar quando, míope, não encontro nem o amor?
Onde foi que enfiaram a minha crença?
Entupiram as minhas artérias. Cinco anos de quimioterapia, oito meses de dor intensa e mais algumas semanas para morrer de morte calculada.
Tenho câncer como ascendente.
Tenho planos para fugir desse planeta levada por alguma onda cansada de bater, de apanhar, de ser tão azul sublime. Esse azul é tão angústia quanto eu. Quanto nós enfileirados ao exaustivo amanhã. Dói, e você vai acreditando nas mentiras cantadas em comerciais, caixas de absorventes ou enxaguantes bucais que ardem mais do que álcool em ferida.
É tudo mentira. Você vive uma mentira, você almoça essa mentira e te transforma nessa mentira e é por isso que tu mentes.
Finjo não querer saber o que você vê de bonito em mim.
Eu vou me apertando, arrochando e sucumbindo só para não chorar na frente dos meus pais porque não sei admitir que sou uma ferida crônica de um metro e cinquenta que possui formato de flor.
Eu não saberia explicar porque quero morrer antes do sol nascer.
Maldito sol de quarenta e cinco graus.
Sou obrigada a chorar em ruas sem saída, dentro de ônibus com destino à Lapa, escondendo com a calça jeans uma mordida na perna porque isso é sinal de promiscuidade.
Onde existe fé nessa cidade?
Eu ainda não transei com mais de três.
Fiquei com média sete na faculdade e as minhas poesias estão sem rimas.
Ainda passo na rua acariciando cachorros e perguntando o nome deles para donos sem nomes. Por que os homens sempre querem dominar?
Em qual lugar se escondeu o amor com medo de toda essa cidade possessiva?
O horóscopo não avisou que doeria tanto pelo amor esperar.
Ainda nem chegou terça-feira, acabei de cuspir aqui a solidão de uma semana inteira.
É sempre uma delícia mergulhar nas tuas palavras. Parecem que são
ResponderExcluirarremessadas com urgência mórbida e ao mesmo tempo, com uma calma de quem não vê esperança em mais nada. Eu simplesmente adoro vir te ler pq tua escrita é perfeita, e pq no fundo, as tuas paranóias, teus caos e tuas feridas sangrando se parecem um pouco com as minhas.
Beijoo'o
Também acho... tuas metáforas são impressionantes.
ResponderExcluirSão figuras de estilo de uma poesia moderna e muito forte....
Todos nós temos nossas tristezas sim.. e tuas tristezas você as torna de todos.
Poeta de mão cheia!!!!
Vir aqui é como procurar por um lugar repleto de paz, porém com paredes surradas de sangue e voracidade. Você deveria escrever mais textos durante a madrugada.
ResponderExcluirNão sei mais o que dizer pra tu quando te leio assim, em plena madrugada. Como vc consegue me descrever tanto em algo tão intimista, G.? Depois dá uma checada no teu Gmail, queria esclarecer umas coisas. Até mais.
ResponderExcluirQue coisa mais bonita.
ResponderExcluirGyzelle, Gyzelle... Quantos sentimentos diversos você me proporcionou nessa leitura!
ResponderExcluirTu é adorável até quando mente, adoravelmente em minha mente que te sente, porque é sempre um prazer imenso, te ler ...
ResponderExcluirSaudações.