quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Seus olhos são mais clichês do que todas as cartas

São onze horas da noite
Lembro dos grandes olhos azuis tão mencionados por mim
Eu finjo que esqueci de você
enquanto falo nomes de homens
do meu passado para estranhos
que me julgam desarmada
E me dispo de suas características
ao fazer poesias só para não assinar
seu nome cru no papel
da cor de sua pele glacial
Eu não preciso evocar nomes
para reconhecermos que essa poesia
é novamente sua
É esse muro de concreto?
São as cartas extraviadas
nos levando a rumos tão longínquos?
Eu atraso todos os dias o meu relógio
só para não admitir que me atraso
mas sei dos seus horários
mas tudo isso é perca de tempo
Eu te sinto a cada batida de caminhão
no caos de cabelos embaraçados
deixados no ralo do banheiro
Estou tentando amar o poeta
no fundo da sala
e que nunca me mostrou um único verso
o divorciado que só amou uma vez
o virgem tarado
o rapaz das flores...
Estou tentando amar
a minha frágil renúncia à lembrança hospedeira em um espaço exacerbado demais dentro de mim
Eu prometi que não ia mais te escrever
mas a chuva inundou a rua
e eu lembrei do choro que alagou
seus grandes olhos azuis
Novembro e ainda penso em você
cansado exposto ao sol e ainda sinto piedade e ainda me imagino
te cuidando como um protetor solar
O ano está acabando
imploro aos fogos
e rezas à Deusa do mar
para te esquecer
deixo todas essas poesias
endereçadas a você
Sei que mulher nenhuma
te escreveu tão sem motivos
Eu amo o que criei
de inofensivo em você
amo a inspiração
o diálogo que nunca tivemos
seu beijo ausente
amo cada verso rancoroso
e prosa metódica
essa insensatez e, no fundo,
sempre achei a cor de seus olhos clichês

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

2015

lembro
falta pouquíssimo 
pássaros suicidas 
no asfalto
são tão tristes 
E eu 
que fazer com as cartas 
lotando armário
choros embolsados? 
não tenho travesseiro 
pro tamanho da mágoa 
estocada aqui dentro
não tenho sono 


sábado, 27 de dezembro de 2014

Um paraíso infernal que se chama Rio de Janeiro

Ah, porra
ainda não dormi
e estou aqui
trabalhando por um futuro
provavelmente mais duro
do que posso medir com as palavras
essas poesias vão amenizando cada
dia estupido
de volta pra casa
o suicídio está mais distante do que
o ano novo, dá pra captar o quanto isso é constante?
esdrúxulas luzes quentes e coloridas
como é escroto esse calor do Rio...
algum dia ainda decapito Cristo.
maldito motorista que não pára
malditos correios, carteiros,
encomendas que não recebo
esses 41 graus foram 
enviados pelo satanás maldito
só porque botamos toda a culpa nele...
algum dia ainda anoto seu número
e denuncio aos direitos humanos
por me fazer sofrer
é mais fácil botar a culpa do meu ódio
universal no bendito satanás
do que em você


terça-feira, 23 de dezembro de 2014

a poesia é digna de possuir teu nome

tu grita de modo obscena essas frustrações, te deixam com cheiro de destilados caros, e culpa tu culpa os astros por esta moléstia. é o amor que te impulsiona a renunciar a eternidade. retorce os lábios de caju enquanto profana sacanagens em tom agudo, te despem desse vestido de veludo vermelho-surrada, então entra sorrateira no labirinto da boca de alguém. quando pensam que se perde, se encontra, mais límpida do que as águas de Búzios, desse Rio de Janeiro te deixa tão sórdida e solitária.

eu sei que chora quando desligam as luzes ao dormir, eu sei que os teus cabelos guardam os laços, tão sensíveis teus versos galácticos. descobri em ti um continente, um planeta próspero a vida humana, um amor desconhecido. geme enquanto o sol te abraça e te chama de pródiga filha. e tenta se findar enquanto vê as fases da lua a melancolia rasgada da imensidão desse céu escuro. eu te escuto, poetisa. eu gozo contigo dessa infelicidade e existir.

você vai continuar reclamando dos graus do rio e das cólicas e do maldito carteiro. eu daria todas as minhas vidas de encarnações só para ter um ensaio de teu amor igual por esse homem com os cabelos da cor de minha paixão monstruosa. essa ferida exposta no lugar do peito vai estar nas galerias. temo ardentemente que suas poesias fiquem trancadas em diários abençoados por algum Deus ciumento. que te rege e te vela canônica desde o ventre banhado por tuas próprias lágrimas.

tu é assim, já nasceu chorando, mostrando que sofrer é poesia. dos teus lábios mordidos muito escassos de amor e me mantenho distante refém desse amor. é esse amor que te mantém viva, poetisa. viva em mim

sábado, 20 de dezembro de 2014

Seu coração é menor do que os seus sonhos

Eu estou criando um amor assim manso, domesticado, só para deixar de me machucar. As avenidas tem estado assim, sem luz, sem endereço certo para eu me localizar. Eu sou dessa descendência de índias marcadas pela exploração. Exploraram meus trajetos, trejeitos, as curvas do meu corpo, o meu medo da vida. Estou nua, estripando cada pedaço de passado em papéis amassados por conta de almas miúdas, falta de espaços.

É hora de seguir em frente guria, o mundo é maior do que o seu coração.  

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

E quero que você me leia

Noite de segunda-feira
A lâmpada do quarto queimou de repente, procurei o amor debaixo da cama, na muda de roupas sujas, na fila infinita do Banco do Brasil.
"Segura na fé e rema" Que fé eu teria depois de ver dentro de um prato um boi assado, no asfalto um indigente atropelado e essas manchas roxas em minha pele? Estou hospedando em minha fala um sotaque nordestino.
Que Deus eu devo procurar quando, míope, não encontro nem o amor?
Onde foi que enfiaram a minha crença?
Entupiram as minhas artérias. Cinco anos de quimioterapia, oito meses de dor intensa e mais algumas semanas para morrer de morte calculada.
Tenho câncer como ascendente.
Tenho planos para fugir desse planeta levada por alguma onda cansada de bater, de apanhar, de ser tão azul sublime. Esse azul é tão angústia quanto eu. Quanto nós enfileirados ao exaustivo amanhã. Dói, e você vai acreditando nas mentiras cantadas em comerciais, caixas de absorventes ou enxaguantes bucais que ardem mais do que álcool em ferida.
É tudo mentira. Você vive uma mentira, você almoça essa mentira e te transforma nessa mentira e é por isso que tu mentes.
Finjo não querer saber o que você vê de bonito em mim.
Eu vou me apertando, arrochando e sucumbindo só para não chorar na frente dos meus pais porque não sei admitir que sou uma ferida crônica de um metro e cinquenta que possui formato de flor.
Eu não saberia explicar porque quero morrer antes do sol nascer.
Maldito sol de quarenta e cinco graus.
Sou obrigada a chorar em ruas sem saída, dentro de ônibus com destino à Lapa, escondendo com a calça jeans uma mordida na perna porque isso é sinal de promiscuidade.
Onde existe fé nessa cidade?
Eu ainda não transei com mais de três.
Fiquei com média sete na faculdade e as minhas poesias estão sem rimas.
Ainda passo na rua acariciando cachorros e perguntando o nome deles para donos sem nomes. Por que os homens sempre querem dominar?
Em qual lugar se escondeu o amor com medo de toda essa cidade possessiva?

O horóscopo não avisou que doeria tanto pelo amor esperar.
Ainda nem chegou terça-feira, acabei de cuspir aqui a solidão de uma semana inteira.

sábado, 13 de dezembro de 2014

Pode ser você

Quem sabe seja esse sol inocente que ultrapassa os quarenta
Ou os semáforos modernos que me fazem parar já que não sei o que significam as cores
Penso se não é culpa do sorvete desfigurado dentro do freezer, da bota descascada, das poesias guardadas dentro de cadernos azuis
Talvez sejam os carteiros que me trazem a esperança de receber cartas anônimas
Esse ano novo que se aproxima...
Só sei que alguma coisa me faz pensar que não estou cansada sozinha,

isso me alivia
?



quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Quase dei seu nome para meu título

Nunca gostei de sapatos abertos, pois meus pés são tortos e isso me lembra corações sem cadeados, assim desatentos, sem óculos ou lentes que aumentem o tamanho do perigo de um amor nesse Rio de Janeiro. Nunca gostei de você partindo em um ônibus colorido me partindo, e sorrindo assim sem jeito, como se não fosse cúmplice da minha paixão brutal.
Me põe no colo e me conta uma história sobre sua jornada de vida entregando declarações, minta sobre o nosso futuro, invente nomes para nossos dois filhos e cante algo que me faça chorar mais do que chorei por não te ouvir.

domingo, 7 de dezembro de 2014

29/11

Depois dessa fase inerte sem sexualidade ou ritual que me salvassem da vida, acordei em um apartamento enorme do Leblon, meio perdida, examinando os quadros e deitando em um chão estofado. Essa angustia é como um soco no estômago, me faz querer vomitar palavras, sangrar pelos braços, pernas e costas. Essa falta de amor é hereditária, vejo a solidão em cada parente que me sorri forçado só por possuirmos
talvez
o mesmo tipo sanguíneo. Eu decidi acordar, quero trepar com essa manhã sem sol por causa das minhas decisões nubladas. No horizonte enxergo em braile ou latim algum manual que me tire disso aqui, dessa castidade, desse
não
ensaiado na frente do espelho.

Decerto eu tenho feito tudo errado

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Existe poesia na fotografia

http://instagram.com/gygoes_

Artísticos sonhos surrados II

Os sonhos dela são mais curtos do que as roupas que frequentemente usa,
e mais longos do que o horário de voltar para casa
quando o sol já está acordando em um horizonte distante.
Com a ponta do cigarro Hollywood ela queima um purgatório particular,
o inferno enraizado em seu nome trocado por algo mais artístico.
Transa com a falta de amor em cada homem de olhos vermelhos,
enrosca nos lábios uma armadura e se dá por um preço mais barato
do que custa o amor nos livros de Jorge Amado.
Os olhos são tão tristes quanto os discos de Chico às três da manhã, e chora,
chora enquanto finge gostar.
Finge gozar, e goza da vida de personagens que possui.
Coloca em um diário as dores enquanto vaga na casa seminua de móveis.
Não há vagas em corações envernizados.
Esconde a tristeza com um lápis preto,
delineia um borrão que se assemelha àqueles sonhos caóticos
perdidos em camas pequenas.
Ela é poeta mas só mostra sua arte na cama de solteiro de um quarto
mais oculto do que o próprio passado, arte mal-paga, mal-usada, maldita.
Se perde na calçada de Copacabana,
na avenida Atlântica ou no céu da boca de algum homem perdido.
Ela paga um preço caro.
O amor é tão raro que ninguém ainda comprou.