terça-feira, 26 de setembro de 2023
coca-cola
sábado, 23 de setembro de 2023
segunda-feira, 18 de setembro de 2023
um milagre
sexta-feira, 15 de setembro de 2023
Moebius
domingo, 10 de setembro de 2023
a busca pelo retrato
terça-feira, 5 de setembro de 2023
geometria do sol
segunda-feira, 4 de setembro de 2023
CAIXA DE FÓSFOROS
A
memória do fogo. Antes do pó – ou da ferrugem do corpo –, o fogo. Anterior ao
desejo, o que o nomeia – a sua chama incontornável. Do ato de comer-nos com as mãos
em brasa), faíscas. A memória não hesita ao rastro do gesto e, por mais apagada
que estivesse, persiste pela sua intensidade. A atração nos ilumina.
amar
como
sentar-se
a
lareira
contenta-te
com a
inquieta
e deformada
chama-
me
à
frente
dos
olhos
O
exercício de reunir caixas de fósforos teve início a partir do contato com o
arquivo de Foed Castro Chamma no Arquivo-Museu de Literatura Brasileira, situado
na Fundação Casa de Rui Barbosa. O arquivo de Foed era intocado, abri as suas
caixas cheias de fogo da memória. Meu corpo, esta caixa que se derrete pelo
arquivo, ateou-se ao ofício de escrever poemas, labirintos. Dentro de caixas de
fósforos criar a história do fogo, o meu.
As
caixinhas são da marca Paraná, fabricadas em Irati, cidade do Foed. Ir a ti,
Foed. Eu vou ao teu encontro. Me atiro.
Penso
nesse exercício de lapidar esta memória atravessada pelo arquivo do poeta. Abro
os seus diários sem pudor, degusto o doce-amargo. Remoo as lembranças, crio
cenários, imaginários.
26
JUN 2023
O
arquivo é sempre um abismo absoluto, cego e sensível. Sempre que vou ao seu
encontro, desencontro o meu objetivo primeiro. Hoje, por exemplo, tive a
pretensão de reunir todos os diários do Foed em uma só pasta. Nessas horas os meus
olhos acariciam a paisagem. Quando me vi estava retirando grampos enferrujados
de papéis, pilhas de ementas e anotações de simpósios de filosofia ministrados
na UERJ, fiquei aflita quando vi aqueles ferros carcomidos manchando os
documentos do meu poeta. Sou zelosa quando declaro desta forma que o poeta é
meu. Mas trancado em caixas dentro de um museu, sinto que sou a sua amante.
Cuido do seu acervo como uma mulher a preservar a sua liberdade. Por detrás das
folhas, diversos desenhos que o autor em suas horas ociosas de eventos criava,
retratos de rostos avulsos, confusos, entediados. Eu me reconheci em um deles,
com o rosto compenetrado e um cigarro aceso entre os lábios. Por que você não
me escreve um poema?
Risco
um fósforo. Risco as palavras. Risco. Me arrisco no ato de fabular a memória. Meu
arquivo. Antes do pó, o fogo.