Retratos: p1
tenho vontade de
receber uma mensagem
ou carta
qualquer memória
mesmo que o mar
longínquo submergisse
das paredes
acima da prataria
de cima abismo
arrepia o braço
a coxa e o buraco
do anus
gostávamos de rodear
os fogos
e os diálogos
atravessavam os matos
cresciam os nus
a correr disparados
de pés escorregadios
a seca surgia
no incêndio das matas
os bichos voavam
velozes com asas esplêndidas
o entorno esverdeando
sufoco dos pulmões
calejados pela ordem
natural dos campos
descobriram uma ilha
que já existia
descobriram
o espaço
os contornos o corpo
nada entorno
só paredes secura
o estoque de lembrança
diluída pelo
branco solidão
esperava uma notícia
distante os barcos
ameaçavam os rasgos
bandeiras e vitórias
escassas
a terra viva
o rosto devasto
as paredes mais paredes
vim do útero de uma guerreira
atravessamos fronteiras
das almas seguintes
correndo por árvores
o mesmo pau exposto na sala
em rijo
secando a mata queima
os retratos
deviam enviar
alguma imagem
esverdeada
uma mente esquecida
no centro
das paredes
desbravadas terras
anunciadas feito virgens
as matas cresciam e pêlos
por entre as pernas
feito pantanal
em tempos de festa
as cores no céu
no oco dos olhos
os desbravadores
atentos ao abrir
dos vãos
empunhavam as facas
e bandeiradas
documentos ilegíveis
às mãos
receberia batida na porta
do endereço
esquecido
ninguém viria
eu não estaria aqui
mas é então verdade
que existo
aguardando
poderia descontar
no tempo
enumerações intermináveis
posso dialogar
com a hora que passa
a todo leve grosso
aceno do peito
dolorido feito pluma
pairava no centro
das paredes sequíssimas
pairando no rio
a água agita. agora sinto o corpo.
me toque.
existe um rumo
que não pertence
ao fim
enfim um envio
agora a carta dentro da palma
arregalo e leio
em tom solícito
uma mensagem do mar
atravessando as paredes
quebrado meu corpo
sangue
a gente foge!
acordo para um sonho
as memórias
retornando
prefiro dormir. existo.
estou presa nas paredes
úmidas
todo corpo quente. queimo
feito papéis
todos foram torrados
tudo que tinha
não sei porque vim
Retratos: p2
podemos percorrer
além das paredes
todas as memórias
tudo entorno
pacatas árvores
plumagens ondulantes
ríamos das lendas
de um povo apagado
não aqui dentro
do corpo
é que dentro do quarto
não alcançaremos
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