Os músicos da sua cidade herdaram o seu sotaque e as pontas das estrelas apontam pra nós, você ao norte e eu desnorteada. Quantas borboletas repousaram a metamorfose em seus cabelos? Você pode morrer agora antes de ler essa carta e isso seria a morte da minha literatura, de meu coração arcaico e de tantos planos ainda não pensados. Acho que chove em alguma parte da cidade e você cresceu cedo demais para um homem com medo. Eu tenho tantos segredos e medos. Esse avião pousa às 21h em Santos Dumond no horário de Brasília. Vê se me guia.
Aceitar o seu amor seria confessar a mim que te amo mais do que devo. O que tento dizer não se põe em grade ou linha. Eu ouço o zumbido das teclas sendo disparadas como balas invisíveis contra mim. Ouço meu sangue fluindo por veias que rezam para serem cortadas, e os relevos do corpo gemendo por você aqui me olhando enquanto te escrevo. As luzes dessa cidade estão tão cansadas. E agora eu não quero falar seu nome. (serei escrava de seu nome). Daqui a sua luz quase não chega então eu tento te imaginar no meu escuro, sendo sugado e se aquecendo porque a tempestade não tarda a chegar. Eu sinto os pingos metralharem os ombros e se preciso de alguém agora penso em seu nome. Apertado. Miúdo.
É muito triste os olhos do motoqueiro no vagão das quatro? É muito triste aqui. Eu quase não vejo brilho, sabe? E se choro agora é porque ouço os trovões de toda seca desses meus tão íntimos 40 graus. Semi-aberta, não sei onde esconder que durmo tranquila sabendo que existe você quando acordo... Eu falo é dessas neuroses que podem te assustar a qualquer instante, me avise o motivo de ir embora quando a música acabar. Eu nunca fui nem minha, entende? Você consegue sentir o que escrevo sem nem admitir? Eu não consigo ver o arco íris, estrela cadente ou pecados impossíveis. E vendo meu corpo por salvação. Seja da praga, do amor, dessa carne que torra os meus neurônios bons. Só a ressaca de você basta para que consiga escrever livro de uma página. Meus pais estão brigando na sala e eu perdida no quarto reparando a solidão que me ponho submetida. As vezes acho que foi escolha ser do meu jeito, e ardo um pouco menos quando me aceito. Então eu tenho motivo pra chorar sim e não falar de amor até morrer dele. Eu não gosto de falar, entende? Eu gosto de ouvir um solo que me faça querer morrer enquanto escrevo. Gosto de ler suas reclamações às seis da manhã. Você é o meu café. Tudo isso faz muito sentido. Você consegue sentir?
(2015)
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