ainda não é chegada fim das nossas vidas mas sinto o corpo socado na estrada muita passagem muita cor antes da manhã surgir como envio do além, lá distante até de espaço, forma, é bem no lugar que a gente devia ir pés nus, corpo untado, nunca assistiríamos tanta paz e esperança de nos alimentar dessa sede que é sumir em conjunto sem rastro, pegada, o que for de pista que nos ache em pleno ato de amor. se for pra ir que seja agora antes que você descubra que mal se sabe onde o que interessa é só ir embora não esperar o sol surgir. é que se amanhece a gente deixa pra dormir esquece de sair às vezes é bom fugir.
sábado, 29 de abril de 2017
brisa
sexta-feira, 14 de abril de 2017
Aos pés do altar
Santo fruto de formas
Transforma no ato
Deforma
Bebei até engasgo
Pasmo enfia o gozo
Boca à fora
No grito
Agrido teu sopro
Em susto me visto
Tornado zumbido
Pé do ouvido
quinta-feira, 13 de abril de 2017
Quase não tenho você em mim
(2015)
Guardo nessa carta saudade e um pouco do sal desse meu mar
Aceitar o seu amor seria confessar a mim que te amo mais do que devo. O que tento dizer não se põe em grade ou linha. Eu ouço o zumbido das teclas sendo disparadas como balas invisíveis contra mim. Ouço meu sangue fluindo por veias que rezam para serem cortadas, e os relevos do corpo gemendo por você aqui me olhando enquanto te escrevo. As luzes dessa cidade estão tão cansadas. E agora eu não quero falar seu nome. (serei escrava de seu nome). Daqui a sua luz quase não chega então eu tento te imaginar no meu escuro, sendo sugado e se aquecendo porque a tempestade não tarda a chegar. Eu sinto os pingos metralharem os ombros e se preciso de alguém agora penso em seu nome. Apertado. Miúdo.
É muito triste os olhos do motoqueiro no vagão das quatro? É muito triste aqui. Eu quase não vejo brilho, sabe? E se choro agora é porque ouço os trovões de toda seca desses meus tão íntimos 40 graus. Semi-aberta, não sei onde esconder que durmo tranquila sabendo que existe você quando acordo... Eu falo é dessas neuroses que podem te assustar a qualquer instante, me avise o motivo de ir embora quando a música acabar. Eu nunca fui nem minha, entende? Você consegue sentir o que escrevo sem nem admitir? Eu não consigo ver o arco íris, estrela cadente ou pecados impossíveis. E vendo meu corpo por salvação. Seja da praga, do amor, dessa carne que torra os meus neurônios bons. Só a ressaca de você basta para que consiga escrever livro de uma página. Meus pais estão brigando na sala e eu perdida no quarto reparando a solidão que me ponho submetida. As vezes acho que foi escolha ser do meu jeito, e ardo um pouco menos quando me aceito. Então eu tenho motivo pra chorar sim e não falar de amor até morrer dele. Eu não gosto de falar, entende? Eu gosto de ouvir um solo que me faça querer morrer enquanto escrevo. Gosto de ler suas reclamações às seis da manhã. Você é o meu café. Tudo isso faz muito sentido. Você consegue sentir?
(2015)
Acabou chorare
Há muitas despedidas nesse aeroporto cujo preço do pão de queijo é quase tão caro quanto o amor.
*Escrito no aeroporto do Rio numa segunda de carnaval enquanto escutava Acabou chorare de Novos Baianos em fevereiro de 2015
é de paz que estampo as paredes mas o caos encarde até os pulmões.
quebrar promessas ou ferir multidões eu não preciso.
amor é isso, a poesia ganhando título.
é água isso que você chama de lágrima?
(2015)
amem
no mundo
como um susto
hino de misericórdia
carta extraviada
pelo destino
pois a minha identidade
é anônima
a cor do esmalte
desbotou enquanto roía
o tempo líquido
e as palavras distraídas
se transformaram
oração
amem
amem
deixo os rabiscos
no armário
pois só creio
no descanso
almejado
desde a primeira
falta de rima
no planeta de homens evoluídos
não há mais chances
de viver em olhos rasos
mas a maré sobe
o dilúvio
arrastando
discurso sobre
a seca no coração
de quem naufraga
no planeta terra
somos compostos por água
e despedida
quando a ferida exposta
gera matéria prima
então exponho ao sol
pouco de rima
para suprir sede
que a poesia
desconhecida
tem de se afogar
no amar
amém
(2015)
segunda-feira, 10 de abril de 2017
sento a escrever suave
tive tempo de buscar
palavras inventivadas
assim nos encaro impotente
diante do manejo de sentidos
logo pela manhã pão quente
com manteiga fria,
cigarro oco pra abafar jejum,
surgem as palavras dormidas
passei por um sonho longo
de personagens ausentes
em memórias mais remotas
antes de acordar
o sol bem mansinho
essa mulher na rua escrevendo
um livro, ao chão,
seu corpo inscrito
desses olhos aflitos, passagem
o vento muito brando
peço desculpa por insistir
tanto quanto ao destino
por não saber sequer
há volta se irmos?
sábado, 8 de abril de 2017
te falo baixinho em segredo
poderia falar
sobre coisas pontuais
sem temer te afastar
quando universo
só nos sobrasse
contando sobreviver
te lembraria do cheiro
daquela noite antiga
tom da sua língua
miúda
te falaria tudo censurado
pela falta de jeito
em confessar o zelo
que tenho pelo riso
quando surge então seu rosto
é por qualquer instante
o afeto
que me ataca
das vísceras
à expressão
de modo evito
pra não revidar
tamanha intervenção
apontaria pedaços
deixados por mim a você
na cidade grande
demais pra nós
tanto a dizer
que é preciso calar
pra ver me escuta
baixinha
todo gostar
só compartilhar
ao morrer as flores dão frutos
definho
murcho e a flor
prostrada na sacada da sala
explícita ao sol
tão longo
o dia demora a cair
o céu denso
tal peso fundo
cansativo é dizer
andar os pés amarrados
o chão movediço
traça na parede
em particular
tanta palavra
o jeito como ginga os braços
largar o mundo afora
lá dentro muda
bonito de tão morto
não tem pressa
as cores as massas
caminhando pra onde
foi-nos em vão
resta um tanto
mal se vê
domingo, 2 de abril de 2017
aponta pra fé e rema
ou tempo no relógio de pulso,
vivia o poema fadado ao desbotamento
as unhas pintadas,
o barulho da hora rente ao ouvido
como se falasse das histórias de paixão
às pressas
onde aceitar espaço sem rota
precisa
é bem no instante que inspira ar mais denso
e se admite chegamos tarde
depois do horário da janta
o poema faminto,
todo momento
quem diria o ponteiro indica caminho
seguimos