Das vidraças sujas da poeira urbana constante, eu observava o sol em declínio quase a se perder de vista, se desfazendo por detrás do edifício Mediterrâneo, o mais antigo do bairro. Requentei o café coado de manhã, um coque mal sucedido por causa da falta de cumprimento do cabelo, o cálculo mental da figura íntegra do corpo dela deslizando convulsiva por entre a palma viscosa das mãos, até pousar firme entre os dedos a caneta de acrílico cor azul. Acabara o Malboro, "Não fode", um bilhete à vida no papel que me fitava em cima da mesa. Uma carta ela entenderia. É que me parece tão tarde pra censuras das palavras trancafiadas, de roer o que resta das unhas, poupar tinta da caneta. Escreva. "Me fode", era o que eu pretendia. Escrevia. Com aquele monumento rígido enfiado por entre vácuo dos dedos, me satisfazia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário