terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

crédito indisponível

agacho ao lado das caixas de papelão 
e com o canivete à mão um surto 
parece óbvio mas enquanto 
o lacre rompe 
o pescoço 
soa fácil matar as dívidas

nada novo no céu além do rumo 
ao sul de rios frágeis 
e o lirismo certo de que vocês 
também e 
eu estamos 
estado de crise
porém o que pensar depois 
alguém te vira e pergunta 
tudo bem? 
como quem sabe 
o que há? 
como quem zomba da maneira 
indefesa como conduz a vida 

os pés enfiados na merda da sala 
a calcinha limpa o xixi da buceta 
o que diria quando chegada a hora? 
eles enlouqueceram! interna hoje 
mesmo porque isso é ameaça 
à vida 
não pode matar

tem que se alimentar talvez 
limpeza espiritual cortar gastos 
e inventar codinome quem 
sabe viajar 
pra perto só 
esquecer daqui da terra 
você é impura e imprecisa 
calma o remédio pode ajudar histérica 
conta uma história alivia o ego 
estamos aqui pra escutar 

"lembra quando a gente saiu juntas pro bar da sorocaba e enquanto a cerveja descia o formato da boca crescia e quando se ouvia música era poesia dos corpos agredidos pela distância que nem a gente compreendia mas quando voltamos pra casa já sem sei como o elevador subia daí paro o corpo entende a gente e se alia as bocas quase se uniam mas chega a hora é aceitar..." 

as vezes você se trata ou então não 
tem mais trato conosco pois é só 
botando expectativa acima 
do que pode alcançar 
funciona na hora exata 

ah creditamos em você 

2 comentários:

  1. Gyzelle,

    A tua intensidade e as figuras que você desenha nos versos são muito cruas. Às vezes me lembra Bukowski. Às vezes me lembra só você, que tenho descoberto aos poucos.

    As postagens abaixo sobre as fodas, eu li com trilha sonora. Otto - Crua. (Assim como levo tua poesia hoje).

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