quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

quero-quero

hei de falar sob o corpo-vertigem
até sobrar sede e o pigarro suturar 
o ato da pronúncia abrupta 

hei de gesticular frente ao delírio
oscilando entre a ficção e o dia-dia 
como os pássaros equilibristas
fazem com os galhos contorcionistas 

mas diferente dos ninhos não descanso
dentro do seu corpo, alcanço as suas penas 
me debruço sobre o músculo do poema 

Um comentário:

  1. Esse poema tem um ritmo diferente dos outros. Talvez por isso ele salte mais aos olhos. Talvez eu esteja gloriosamente enganado, mas ele me parece uma experimentação, principalmente por falar desse desejo de querer-querer e dos heis.

    Baudelaire tem um belo poema sobre um cisne. A imagem é a de um belo pássaro que possui um andar desengonçado quando no chão justamente porque foi feito para voar. Não me entenda mal, eu só estou buscando as referências. É um lindo escrito, mas cheio de quebras e palavras que se lidas em voz altas causam certo estranhamento: abrupta, ficção, equilibrista.

    Eu adoro. Quanto mais original, melhor

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