terça-feira, 29 de dezembro de 2020

ampulheta

à tudo o que não pude calcular 
com os
dedos da mão 
e porventura não deixei cair 

aqueles que não temem 
a hora da lágrima
talvez 
sejam os 
mesmos 
que aguardam
o indício da queda 

eu vi a ponta do planeta 
amarelado 
apontando 
para os meus dedos 

eu posso contar 
quem amei 
sem o 
receio
daqueles que prometem 

quando me dei 
por perdida 
quando 
além
dos 
meus rastros não só 

eu os 
havia 
deixado 

alguém me carregava 
como dromedário 
naquela areia 
relutante do tempo 

refletir o 
amarelo 
do planeta 

posso voltar ao dia 
em que vi-o  
seu rosto 
se projetando 

partículas mínimas macias 
a firmeza advinda 
do seu gesto amiúde 

inteiriça me permitira 
ser conduzida
pela força do desconhecido 

devido à sede 
o silêncio 
era mais
demorado

sem contar pois 
deixara 
de usar 
as mãos 
segura 
para beijar-te 

quem mais 
poderia 
dizer 
do meu descuido acalorado?  

o que quero falar a ti 
da minha entrega 
é que fora
em seus braços
a chegada à uma nova terra 

2 comentários:

  1. o horizonte sempre nos mostra algo novo

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  2. Gosto da ousadia em quebrar os versos para simular a ampulheta. Muito se critica as pretensões concretista por fazer com que a forma se sobreponha ao conteúdo. Mas acho que nesse poema você alcançou um ótimo equilíbrio entre expectativa e exigência. Nem sempre a gente consegue enxergar o trabalho e, sobretudo tempo, dedicado a um escrito.

    Eu particularmente sou um inimigo declarado do tempo, mas adorei esse poema. A segunda e quarta estrofe, especialmente são absurdas de belas.

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