sábado, 29 de agosto de 2020

noir

conduzida à fila do cinema 
escolho o mais nonsense 
arrisco ser o palpite
: te assistir antes do filme 

até irmos às profundezas da sala 
te guio à barraca dos doces 
mais sal na manteiga 
pacote extra grande 
te deixo na fila do banheiro 
com a mão no ingresso 

penso do espelho em não retornar 
tenho receios de te beijar no escuro
e regressar à belle époque 
fico aflita de confabular um roteiro 
na minha cabeça 
que faça mais sentido e 
que me faça sentir vontade
de acender as luzes 

assim apareço com as mãos úmidas 
- tremo pensar no contato com as suas 
evito movimentos descuidados 
assim deixo você ficar com a pipoca
aliada ao corpo 
me parece seguro 

e aperto os olhos nos números das cadeiras 
percebo a nossa distância 
em relação às 
outras 
vejo em câmera lenta 
o nosso ritmo 
ao mínimo gesto 
não nos permitindo cortes 

ou foi o filme que termina 
ou foi o início 
do meu desfecho 
ninguém entre nós se levanta 
só ouço você finalmente 
e só consigo
entre os créditos 
dizer que o melhor do filme 
é a parte em que a gente se torna 

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