terça-feira, 12 de dezembro de 2017

sonâmbulos

Oh se estamos tão cansados
(no intervalo das programações)
a vida vai arrastando
de trás pra dentro
enfiando tudo
de uma só vez
pra ver se nos cabe

E assim
como por acaso
o sol surge
timidamente nítido
o suor acompanha
o punho
e o rosto côncavo
inclina-se pra fora

Então os mares
em revolta
vingam as ressacas
os bondes passam
a nuvem treme
quase esquecemos da morte

Mas estamos cansados
e o corpo cobra
as contas cobram
os telefonemas
as transmissões,
mas é isso
a gente
tenta tanto
e sente muito
novamente

No entanto,
costumamos brindar
o fim do dia
de alguma forma
o corpo paira
os olhos indicam escuridão

As notícias notam
a gente distraído
fora as outras vozes
tomando posse
de uma manifestação
tudo entorno decrescendo
das falências institucionais

Ainda falaram
sobre a banalidade
do poema
no mundo
como quem decerto
despreza o mundo

Ah se estamos
tão cansados
mas o dia quase
como um sonho (acorda)

Um comentário:

  1. O sono não salva e os sonhos não seguem.E a gente permanece protestando contra o tempo que vende sem possuir, correndo contra algo infinitamente mais rápido que nós. Muito poderia ser dito sobre seu poema que denuncia a dissolução do corpo em uma corrida sem destino, mas tudo já foi muito bem colocado. Muito, muito forte mesmo. Versos necessários.

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