terça-feira, 19 de setembro de 2017

Depressão


Meu corpo em transe. Meu corpo inerte. Planos de fuga a algum lugar desconhecido de culpa. Sentindo culpa por sentir. Sentindo a mim muito pouco. Estado de modo inquieta. Os cães ladram sem saber o porquê dos soluços no quarto, decorado com minha bagagem. Retorno de bolso oco. Como aqui dentro do corpo é imensurável. Dispo as feridas escondidas abrindo espaços, me ocupo. Me refiro a uma dormência me deito e reviro. Não durmo direito. Outra vez o mesmo buraco. Não caibo. Na superfície o ar espreme meus pulmões de carvão. Meu corpo sente tanto por tudo isso. E eu sinto muito novamente. 

"A depressão comeu meus livros empilhados em ordem alfabética, os romances em drama brasileiro, as novelas infinitas, meus contos engavetados em folhas de caderno. Devorou os frascos de perfume que soam vazios, os rótulos de cosmético sem validade, as raras vezes que senti ódio. Comeu minha paz dizendo solidão, condenou o medo que sentia sob acusação de pena, desgostou do meu gosto de gostar." 

A solidez me abraçava em angústia, no peito uma armadura incapaz de proteger dos danos irreversíveis dessa conformidade pegajosa. O corpo obedecia à depressão intitulando que a pequenez em mim não só era tamanho, não me sinto capaz de enfrentar um mundo maior. Me encaro no espelho do corredor e desconheço pra onde. Estou? Talvez de medo, talvez de fúria, quem sabe o que se deu pra sair daqui. Em mim é muito vasto. Ensaio a próxima fuga. 

2 comentários:

  1. Eu adorei o jeito que usastes as palavras, para fazer esse belo texto♥
    É bem assim que me sinto, ás vezes :/

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  2. Meus Deus! Muitas sensações me trouxe seu texto maravilhosamente desenhado por cicatrizes aparentemente curadas em mim, e sinto essa vontade em meus pensamentos de fuga, de grito contradizendo meu "silêncio de normalidade ". Só posso aqui agradecer por escrever as palavras que em mim são amontoados mudos, espelhos quebrados, cansados num desejo simples de serem janela aberta, cessar a fuga em mim. Um abraço vibrante a você Gyzelle, o qual sinto agora.

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