terça-feira, 26 de setembro de 2017

ao fim de partida

pegue o trem azul
na plataforma do último sonho
alcance
em vastidão
os cogumelos
e canelas e cravos

formule as palavras
enunciadas por convulsão
da boca solene
em delírio imóvel
entre hinos sonâmbulos
à medida que teu corpo
deita
esgotado
escorrendo pelos trilhos

confessaria fugir no véu
encoberto da noite satírica
no drama crepuscular
em ventania do
vestido acetinado

sem destinos apuros
o corpo desliza
nas vagas imprecisões
entretanto
pegue o trem azul
mais longe
mais distante
mais alto que puder
saltar

e quando alcancar
lembre do sonho
todo azul

atropele as estradas
as vias asfaltadas
feche os olhos
embora assustada
e grite
o terminal dos sonhos
ainda não alçou

2 comentários:

  1. teu poema me lembrou do ascensor para o cadafalso de louis malle, um poema noir... toda estética e alma noir pairam na certeza de que tudo aquilo já passou, daquilo que não está mais lá... ficamos meio sem saber se partimos ou chegamos porque a luz nunca é totalmente presente ou ausente (os crepúsculos)... no filme de louis malle os personagens, a trilha sonora de miles davis, tudo aponta para que tudo o que é mostrado ali (traição, espionagem, etc) não faz a menor importância... mas com que sofreguidão e beleza tudo nos é apresentado... quanta maravilha se esconde em sonhos inúteis.

    tua escrita está diferente, não tem nada a ver com o tempo nem com estilo... não sei dizer, como um esforço de impessoalidade; parece que mudou o que voce entende por literatura como se estivesse já cansada do século 21 que mal começou e já parece datado. tive a sensação em seu poema que escrevia a partir do final, de trás para frente, porque já sabia toda a estória. concordo, as estórias estão cada vez mais ficando as mesmas.

    um abraço

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