sexta-feira, 24 de março de 2017

florescer

se te aparento desatenta quando cruza os braços e desvia o caminho dos olhos indignada é por mero devaneio desse sentimento que me é dificultoso nomear

por falar nisso é que não digo mas soletro seu nome em segredo de modo organizado abro as portas sem facilidade mas se te prevejo na sombra dos vãos é ali que arrombo até as passagens do abismo pra te assistir

assim como uma miragem no calor do deserto do corpo te descubro incisiva e vasta. pondero o quanto isso me penetra e destranco o anseio pávido pra te receber inteira, instauro as digitais dos dedos úmidos em mim como quem instantaneamente derrete de medo do abandono

reviso sem exceção as curvas embora prefira aquelas dos traços que desenha sem compromisso de assustar sábia da força que proporciona e me mantém, esse amor comprimido

é disso que temo quando o tempo fecha e você dá sumiço assim feito sol triste sem contorno. é quando te parece que em pleno desastre simplesmente mudo enquanto que no absurdo lá fundo, em mim te inscrevo


Um comentário:

  1. Que bonito. Os contornos das coisas ao redor, as transformações do tempo e mais, em nós, por dentro.

    Adorei o título. Um abraço :)

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