sábado, 14 de fevereiro de 2015

há um bicho sem nome me olhando enquanto escrevo

eu quase dei seu nome pro bicho
que mora dentro do meu quarto aceso
há tanta gente exausta aqui que o meu cansaço some
e se perde em cima da cama de colchão fino

há o desconhecido grudado nas paredes das casas
por onde entro descalça
e vejo sujeira atrás da porta
[essa cretina porta de madeira maciça
não avisa quais partidas que serão
pra sempre
mas sempre me diz pra sair]

o universo dançando com o meu corpo morto me afundando
vou ficar mais cega do que o amor
o meu corpo é sede de alguma paixão desleixada
a minha escrita não vale nem a primeira página de um livro
mas ela me salva e me salva agora do bicho sem nome

essa voz tão arrastada, tantas vírgulas poupadas, o piso do chão rachado
e a falta de tamanho
é um pouco de medo por existir tão em vão
esse disco arranhado é um eufemismo a essa hora
e tenho uma vida de sobra para jogar até amanhecer primeiro
em cima das ondas outra vez

o que digo não faz mais sentido
e a conta de luz desse mês aumentou
abre essa janela que hoje eu vou te observar
há um sol sorrindo me querendo amanhecer requentado
quase mudei de lugar
novos carteiros foram contratados no Humaitá
e ainda procuro coisas debaixo da cama
não sei o que realmente perdi

4 comentários:

  1. vai ver eu estou embaixo da cama todas as vezes as quais você esquece de olhar, purple.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Um texto que realmente te faz sentir, entrar dentro dele.
    Muito bom.
    Adorei o nome do blog tbm.
    Beijos,

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