sexta-feira, 31 de maio de 2013

Memórias I

Quero despedir-me desse amor
amor que me cobriu no frio
de madrugadas sombrias
espantando todos os medos vivos

Jogo fora as armas e armadilhas
eu deixo contigo a paz de um refugiado
e quero que você corra
que fuja desse mundo corrompido.

Sujo as mãos com o sangue que passou seus dedos
esta navalha de alumínio é minha cúmplice
deixo escorrer o desespero morno da derrota
eu perdi e foi você o que apostei
perdi para minha fraqueza
perdi milhões de vezes
e não me resta nada.

Desloco-me por essas ruas sujas e vazias
estou tuberculosa de solidão

O dedo está inchado e o anel deixado no baú
a senha é o dia do nosso noivado
os doces trouxeram cáries de paixão
e os passeios nas nuvens desgrenhadas serão memoráveis
você viajou sobre meu corpo delinquente
enquanto traguei suspiros quentes

Eu fui morfina para a sua vida dolorida
te viciei incansavelmente
e estou presa em um passado
onde os sonhos se desfizeram com inocência

Os filhos não foram gerados
grito mas a dor corta
as veias da garganta
estou condenada a silenciar-me

Foi bom e cinzento
o arrependimento não aparece nas palavras
talvez nos gestos
talvez na chuva que persegue meus passos vacilantes
e vou embora gripada
mais uma vez tropeçando nos soluços navegantes

A rosa que me deu está guardada dentro de um livro amarelado
onde as palavras esfarelam-se
num romance antigo com as pétalas ressecadas
O roteiro de nosso filme ganhou Oscar no verão passado
e hoje ele está esquecido
assim como você terá que fazer comigo
e com os planos falsamente editados.

Um comentário:

  1. me mostraram teu blog dia desses.
    obrigada. mesmo não achando tanto, fico contente em saber que lê e gosta do que escrevo.

    (respondi por aqui porque não tô podendo enviar mensagem pra quem não tenho no facebook)

    flores.

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