Acordei com os olhos inchados, a claridade os queimou e a buzina louca dos carros fizeram com que eu chorasse um pouco mais antes de tentar levantar. Cambaleei, fiquei sentada, coloquei a cabeça sobre as pernas e deixei que as lágrimas quentes molhassem. Eu tinha esse mesmo coração quebrado dentro do peito e um gosto de café amargo na boca, todos os dias fazia café e não botava açúcar suficiente. Lembrei da época em que titia me comparava com o açúcar das jujubas e um sorriso sem felicidade estampou o rosto. Fui até a cozinha com um vazio no estômago, procurei pelo pó e não o encontrei. Era engraçado, sempre esquecia do açúcar mas do pó nunca havia me ocorrido. Senti vontade de chorar novamente, como que desesperada, mas nada de meus olhos caiu. Dei de ombros, fui ao banheiro e enquanto escovava os dentes, comecei a esfrega-los tão fortemente que a boca começou a sangrar; quis lavar minha alma com a escova, que tola. Sem forças para chorar resolvi sair de casa.
A rua da minha casa pareceu muito estranha e desprovida de cor. As pichações nos muros me deram ânsia de vômito, resmunguei alto palavras horrorosas. Cheguei numa padaria de paredes descascadas e pedi café com bastante açúcar. Na verdade, eu gritei, e o rapaz que me atendia, arregalou os olhos, talvez fosse medo. Quem não teria medo de uma mulher descabelada e com os olhos borrados àquela hora da manhã? Recebi o café em um copo de vidro molhado, beberiquei e meu estômago vazio embrulhou, gargalhei de toda aquela desgraça de vida e quando olhei para o lado, tinha um simples e bonito rapaz olhando meu sorriso. Encarei-o com os lábios estendidos e ele estremeceu. Bebi mais um gole e gargalhei ainda mais alto, ele suspirou, até sorrir também. Depois segurou minha mão e disse baixinho que o café podia estar mais quente e doce que eu no momento, porém assegurou que se eu continuasse segurando sua mão, em breve todos os cafés me invejariam.
Continuei sorrindo, entrelacei nossos dedos e realmente o rapaz me adoçou. Adoçou minha boca.
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