quando o Sol nos coroa
pergunto da imagem que a gente fazia
nos troncos contraídos, da pele raiando as raízes,
a marca do teu rosto rastreando as ramagens amarelas
e os brotos corando, o verdinho queimando a pálpebra
tu pergunta coisas em silêncio
e me pergunto da imagem que a boca fazia
a gente ensaiando uma nova balada
do samba no banco de vidro
envio os ensaios da poesia
que pensei arqueada ao teu esboço
era o breve tempo acenando
dizendo coisas da boca em bamba
mais um enredo ao nosso gole,
entrar em campo, o Sol coroando a imagem
que a gente fazia do amor saudando os braços descontraídos
eu me pergunto da imagem que a gente fazia
quando o amor se fizesse brilhar mais do que o próprio reflexo de Narciso no Rio
e são tantas línguas palavras salinas
e tantos mares que porventura corriam no mato
desprovido de roupa o inverno
saltitando sob os lençóis as aves saltimbancos
éramos bonitos e a paisagem um brinco,
falar de natureza é transformar o que fazíamos encolhidos
raio de versos um poema desprevenido