terça-feira, 19 de maio de 2020
M.
Por algum tempo achei que tinha te perdido, que toda a glória de ter lido o seu traço no mundo do meu coração faria parte de uma trilha distante, e que teria de me contentar com fragmentos seus que mofavam na biblioteca. Mas à meia-hora ou meia-noite eu te reencontrei, pensei ser uma vertigem por delírio da saudade, você havia trocado de nome, e de endereço, e de lugar dentro de mim, mas é a verdade que encontrei você novamente. Você que eu simulava que talvez não lembrasse e que deve ter mudado tanto os móveis de dentro da sua casa móvel que propriamente ainda deva se desconhecer, você que eu não mais ousaria dizer que amei por medo de amar ainda mais sozinha, você que ainda mantém a mesma cor de caneta, e o mesmo rasgo na costela, a mesma coragem de seguir enquanto eu ainda temo tê-la deslocado para um lugar mais silencioso do que a memória.
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