quinta-feira, 21 de maio de 2020

terra

vejo os olhos dela nublados
ao fazer menção ao meu descuido
mas ela levanta e se curva
para me dizer que sou abençoada
não posso evitar na minha voz
aquela fragilidade que desfilava
e se poe no parapeito para filar o sol
será que leu os meus poemas?
parece que derramei todo o leite do peito
com os dentes afiados, mas ainda é cedo
para me desgarrar, ainda sinto que desistir
nunca foi a palavra, por entre atos irrecorrigíveis
suspeitava da aurora que brotava dos meus espinhos
eu que sempre fui delicada, não sabia a hora do hematoma
entre os meus ousava engatinhar como quem gargalha 
do parto e de partir, vejo o meu semblante borrado 
e por mais que tente distrair nunca vou poder fugir
ou quem sabe rabiscar o meu registro

e não quero mais esse desterro
do esquecimento prematuro
que não escolha o meu nome
eu vejo o destino escancarado
quando me deito e escrevo
que nós somos o alívio
quando os olhos estão secos

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