amanhã seremos mais antigos amores
e seremos o que quisermos no passado
devido aos nossos narradores
devido ao legado da ferida que expõe
corpos ensolarados
somos até a matéria encolhida
ensinando que deveríamos renovar
terça-feira, 31 de dezembro de 2019
"Quero que pinte um amor Bethânia"
hoje o meu coração dança,
quer sair hoje o carnaval começa hoje,
o canto doce dos doces,
somos as divinas memórias,
isso é um diário
seríamos,
seria,
eu já nem sei o que seria agora
começo a rasgar
a rabiscar papéis
somos as histórias todas as histórias
tenhamos de reescrever nossas histórias,
isso chamarei de arquivamento,
arquivologia do eu,
as minhas memórias agora tomam forma diferente,
isso é memória?
viremos a ser,
os narradores escorrem pelas margens,
e me sinto ecoando,
sinto pulsos mais brandos
e esse desejo de poesia
eu me deito sob os papéis, meu peito leve,
essa onda parece uma brincadeira,
eu quero é viver brincar com as palavras
esse ser o poema
poderia ser só impressão minha
mas sinto que estamos nos despedindo,
teu sono lento, você me pede para subir,
abria a porta, deitava no sofá,
eu te enchia de beijos,
ouvia teu ronco,
esperava que levantasse,
nós dormimos por muito tempo
agora escrevo no papel A4
papel de pólen,
sei tremer e que na verdade
não sei explicar-me
ouvi teu sorriso e o meu sorriso,
e o nosso sorriso,
entro em combustão
entro em uma viagem muito longa
e duradoura,
eu ainda viajo,
lembro do nome verde e azul,
daquela paz de passagem,
você me segurava, ou não me esperava?
você não sabe se decide se levantar,
que eu te coloque para fora da cama
esperei que me pedisse alguma coisa,
sentia-se desconfortável,
pediu gentilmente para sair,
eu achei a porta,
pensei que assim poderia ficar
durmo um cigarro inteira tranquila,
mas antes que terminasse,
bateu à porta,
entrou e sentou no sofá,
depois pediu que subisse à casa,
toquei seus pelos de urso,
enquanto o subia,
ele agora me olha de lado,
acho que me pede carinho,
ele encontra muita seriedade,
o que posso fazer para agradar-me?
eu não sei se ele tem sono
mas parece ter,
vamos amanhã à lagoa
meu pai vai ficar com você
e nos divertiremos
pela intensidade da natureza
voltaremos a dormir
quer sair hoje o carnaval começa hoje,
o canto doce dos doces,
somos as divinas memórias,
isso é um diário
seríamos,
seria,
eu já nem sei o que seria agora
começo a rasgar
a rabiscar papéis
somos as histórias todas as histórias
tenhamos de reescrever nossas histórias,
isso chamarei de arquivamento,
arquivologia do eu,
as minhas memórias agora tomam forma diferente,
isso é memória?
viremos a ser,
os narradores escorrem pelas margens,
e me sinto ecoando,
sinto pulsos mais brandos
e esse desejo de poesia
eu me deito sob os papéis, meu peito leve,
essa onda parece uma brincadeira,
eu quero é viver brincar com as palavras
esse ser o poema
poderia ser só impressão minha
mas sinto que estamos nos despedindo,
teu sono lento, você me pede para subir,
abria a porta, deitava no sofá,
eu te enchia de beijos,
ouvia teu ronco,
esperava que levantasse,
nós dormimos por muito tempo
agora escrevo no papel A4
papel de pólen,
sei tremer e que na verdade
não sei explicar-me
ouvi teu sorriso e o meu sorriso,
e o nosso sorriso,
entro em combustão
entro em uma viagem muito longa
e duradoura,
eu ainda viajo,
lembro do nome verde e azul,
daquela paz de passagem,
você me segurava, ou não me esperava?
você não sabe se decide se levantar,
que eu te coloque para fora da cama
esperei que me pedisse alguma coisa,
sentia-se desconfortável,
pediu gentilmente para sair,
eu achei a porta,
pensei que assim poderia ficar
durmo um cigarro inteira tranquila,
mas antes que terminasse,
bateu à porta,
entrou e sentou no sofá,
depois pediu que subisse à casa,
toquei seus pelos de urso,
enquanto o subia,
ele agora me olha de lado,
acho que me pede carinho,
ele encontra muita seriedade,
o que posso fazer para agradar-me?
eu não sei se ele tem sono
mas parece ter,
vamos amanhã à lagoa
meu pai vai ficar com você
e nos divertiremos
pela intensidade da natureza
voltaremos a dormir
voltar para onde?
acredito que queira escrever uma carta
esse exercício de escrita me tem consumido
eu tenho vivido pelas palavras
no entanto, o meu silêncio ainda preenche páginas
eu quase já não saio e não penso em voltar
sinto que cresço ainda, ainda cresço
as pessoas me veem pequenininha e profanada
é difícil que lidem consigo mesmas
e depois comigo
eu entro numa história como quem ri
descreve e soluça mais alto
às vezes eu sinto a vida como uma cena, força estranha
eu seria quase bruta se não fosse a sensibilidade
eu suspiro e decido me despedir
decido voltar
mas voltar para onde?
esse exercício de escrita me tem consumido
eu tenho vivido pelas palavras
no entanto, o meu silêncio ainda preenche páginas
eu quase já não saio e não penso em voltar
sinto que cresço ainda, ainda cresço
as pessoas me veem pequenininha e profanada
é difícil que lidem consigo mesmas
e depois comigo
eu entro numa história como quem ri
descreve e soluça mais alto
às vezes eu sinto a vida como uma cena, força estranha
eu seria quase bruta se não fosse a sensibilidade
eu suspiro e decido me despedir
decido voltar
mas voltar para onde?
e eu
eu mal conseguia acender um fósforo,
eu estava na chuva, segurava uma cerveja
e me sentia sozinha,
não tive forças de mudar de lugar,
eu falava sobre arquivos quando dizia de amor,
as memórias são capazes de voltar
mas eu não volto,
não com essas pernas e essa cabeça,
eu fico aqui,
eu seguro um cigarro,
eu seguro as pontas
e a chuva é passageira
eu estava na chuva, segurava uma cerveja
e me sentia sozinha,
não tive forças de mudar de lugar,
eu falava sobre arquivos quando dizia de amor,
as memórias são capazes de voltar
mas eu não volto,
não com essas pernas e essa cabeça,
eu fico aqui,
eu seguro um cigarro,
eu seguro as pontas
e a chuva é passageira
linguagem
não quero mais poemas temáticos, se preciso dizer sobre a virada do ano ou do quarteirão que eu dei só para te filmar, esquece o tempo, esse que tem passado e nos feito distância e estranhamento, esquece essa angústia que te faz beijar outras bocas sem gosto, eu vejo os seus olhos bem loucos pedindo por nós, eu vejo os meus olhos bem loucos pedindo por nós, então não são tantos quilômetros se os números e aliás as palavras são infinitas, imagina a borboleta vivendo em um dia esse amor fantástico pousada em nossos ombros, teríamos de nos versar entre mais silêncio enquanto nos beijamos ou a infinitude dos números ou seja o tempo em nossa boca
segunda-feira, 30 de dezembro de 2019
maçãs verdes e fritas
esquecia que a manhã adormecia
diante das pernas curvadas
então pedia que a redenção
viesse mais rapidamente do que o sono
e esquecia do sol nascente
e erguia o calor das adocicadas
diante das pernas dormentes
atentava aos sinais das maçãs
requentadas no verde do parque
era toda a missão de curvar-se
e pedir mais um pouco de culpa
saídera
tenho me ocupado de ouvir os folks
acreditar no retorno sem virar para trás
erguer a cabeça mesmo que os olhos se revirem
me questionar sem culpa
relembro meu sorriso e sorrio
quanto a isso não há volta
quanto ao amor
ainda dá tempo de pedir outra rodada
acreditar no retorno sem virar para trás
erguer a cabeça mesmo que os olhos se revirem
me questionar sem culpa
relembro meu sorriso e sorrio
quanto a isso não há volta
quanto ao amor
ainda dá tempo de pedir outra rodada
terça-feira, 24 de dezembro de 2019
A hora da estrela
prevejo a tua chegada
nessa rósea noite de natal
não tão rosada quanto as tuas espáduas
ou tão sagrada quanto a tua chegada
e esta espera me infla o ego
de um querer despovoado e refutável
essa ânsia é o que me mantém
atenta ao relógio cativo à porta
aos ruídos livres do corredor
(as crianças ainda brincam)
à esperança que morreria primeiro
do que a poeta se não fosse poeta
nessa rósea noite de natal
não tão rosada quanto as tuas espáduas
ou tão sagrada quanto a tua chegada
e esta espera me infla o ego
de um querer despovoado e refutável
essa ânsia é o que me mantém
atenta ao relógio cativo à porta
aos ruídos livres do corredor
(as crianças ainda brincam)
à esperança que morreria primeiro
do que a poeta se não fosse poeta
temporal
antes nunca houvesse aberto esse livro,
parece, ainda intocado,
uma memória do tempo além do tempo,
o banquete aos convidados,
ao infinito seu nome arbóreo,
no gesto dos líquidos o sangue
se confunde com o vinho dos deuses,
parece, ainda intocado,
ferida que nunca sara
quinta-feira, 19 de dezembro de 2019
é tudo o que tenho a dizer
falo de amor
gesticulo
me expresso
fervida
poesia agora
digo
nos diga
se o passado
cresce
ou
apenas passa
ilha dos amores
algum dia essa transa literalmente fará sentido
algum sentido algum dia
será novamente bom dia
e você irá abrir a boca
mostrando a língua
que língua colossal
você é zodíaco
dos signos
das abstrações
e então que se entendam os poemas
as melodias e todos os shows solos
ah, haja imensidão para nos abarcar
haja mares navegáveis e litros e litros
de amor
algum sentido algum dia
será novamente bom dia
e você irá abrir a boca
mostrando a língua
que língua colossal
você é zodíaco
dos signos
das abstrações
e então que se entendam os poemas
as melodias e todos os shows solos
ah, haja imensidão para nos abarcar
haja mares navegáveis e litros e litros
de amor
quarta-feira, 18 de dezembro de 2019
a fase do nevoeiro
é pura vaidade escrever agora e saber do ínfimo pensamento que é possível ainda me atraia ao turvo perdido do buraco negro no lugar chamado teus olhos
tu deve pensar que ainda me encanto pelo cheiro de gato molhado impregnado em tua fisionomia ou que preciso ouvir tua voz dizendo novamente que o dia não será bom de novo
se bem que eu sou da banda de artistas que todo poema que lê acha que é para si que foi escrito devido a própria presença nesse mundinho
mas se até a cama é pequena imagine o tamanho da vontade de dizer que esse poema eu estou minimamente me referindo a ti
olhe bem, longe de mim que seja rancor pois isso sim seria anúncio de que ainda guardo algo por ti
algo maior do que o nirvana atingido quando nós descobrimos a corda no pescoço antes de saltar pra fora
é diferente tem gosto de dissabor sabe
tem sabor das palavras que não escaparam da boca nos momento de silêncio inoportuno ou de rodar quilômetros e não fugir da mesma paisagem
éramos the end or game over desde la partida e ainda reprisar essa névoa é afirmar que ainda estou saltando
mas agora é diferente do início agora eu estou pulando é dentro de mim
terça-feira, 17 de dezembro de 2019
fineza
acabo de retornar às suas palavras
o que acontece?
a vocês que não mais aparecem
com aquele brilho e aquele fôlego
aquele riso de arder e a sua ânsia
de resistir e fazer valer
e todas as significâncias
em um livreto fino
e essa força da obviedade
o que acontece
que eu não te encontro mais
nem na padaria e nem na palavra
fico a perguntar cadê o poema você
que eu decorei não consigo esquecer
segunda-feira, 16 de dezembro de 2019
às
as luzes daquelas vozes deprimidas
saltavam de ira um quarto de cólera
piscavam doloridas e gemiam
dentro de uma paixão comprimida
o poeta se estivesse vivo argumentaria
'não precisa ser tão romântica
a poesia é inútil
por pura vaidade abriria a boca
em nós há um pouco de lucidez
e entre lugares um pouco de intimidade
mas eu ainda sinto vontade de ir embora
ele pega o meu dedo e diz
'faz um verso na parede
e depois se arrepende de ter me beijado
e depois eu realmente fui embora
eu tenho tido pavor de fazer as mesmas
coisas que eu fiz e isso me apavora
porque ainda não fiz um quarto
me sinto uma gatinha endurecida
e os olhos não abrem mais antigos
o que será que me deu
o que me deram?
eu acho que ninguém mais lê isso aqui
e eu me deito mas não durmo
então preciso escrever no escuro
e acabo por publicar tudo
domingo, 15 de dezembro de 2019
a gaita da meia-noite
o coração de luneta tocava sua gaita
feito o corpo de uma mulher azul
jurava que fazia poesia
somente nas horas vagas
e que batia o ponto
era pontual quando vinha
com um sorrizinho e uma piada
para cortar o breu
era o silêncio que o fazia
sentir ser o abismo
era puro abismado e gravava vídeos
para poupar o diário que nunca existiu
os poemas existem mas têm
hora marcada
o outro desfilava nu na floresta
e ficou depressivo
teve que retornar para o moletom
e aos lançamentos da Netflix
aquele que era poeta parece
que tinha uma musa
mas era o barulho da gaita
dentro da boca
segunda-feira, 9 de dezembro de 2019
amanhã luminosa
as luzes desse sol negro
refletidos de seus olhos vibrantes
as ovelhas caminham e saltam
os pastos não serão como antigamente
estão mudados e os animais humanos
mais intensos, hirtos,
o labirinto de um só caminho
a velha história contada diferentemente
fizemos de nossos corações
poças de palavras
meu cheiro de domingo
recomeça e fizemos mais nada
do que faríamos
além disso seu corpo incandescente
ilumina os nossos olhos vidrados
nosso baile todo dia
parece que não dorme
a manhã acordou contigo
refletidos de seus olhos vibrantes
as ovelhas caminham e saltam
os pastos não serão como antigamente
estão mudados e os animais humanos
mais intensos, hirtos,
o labirinto de um só caminho
a velha história contada diferentemente
fizemos de nossos corações
poças de palavras
meu cheiro de domingo
recomeça e fizemos mais nada
do que faríamos
além disso seu corpo incandescente
ilumina os nossos olhos vidrados
nosso baile todo dia
parece que não dorme
a manhã acordou contigo
sábado, 7 de dezembro de 2019
reflexos
os poetas só têm escrito um poema
por mês ou por vez
e o outro me olha sorridente
depois de ganhar um livro do Gautherot
me chama para fumar um cigarro
e assinar meu livro
enquanto fala da fluidez da aquarela
nós fumamos três
e na despedida
eu não peço que fique
eu tenho deixado que o fugaz
seja motivo para fugir dos eventos
por mais que tenha me sentido lisonjeada
pelo entusiasmo ao dizer que eu era legal
e que eu devia saber disso
no dia seguinte eu cancelo as provas
eu invento motivos para não aparecer
eu esbarro com o outro no bar
seria surpresa se fosse outro lugar
ouço da outra quina o barulho dos beijos
enquanto falo sobre a arte na China
e penso no quanto tenho me tornado
uma pessoa indiferente
eu que vivo a sensibilidade
sinto evaporar meu suor
e a vontade de fechar os olhos
eu esqueço que simplesmente existo
até me olhar no espelho imundo
eu me reconheço pouco
parece que além de legal eu sou bonita
quarta-feira, 4 de dezembro de 2019
O beijo no envelope
que se entendam os amantes
mas eu não tenho tempo
para abdicar o amor
enquanto o beijo termina
e a linha tênue entre amar e desespero
me faz querer ler outro romance
eu quero mais e
eu posso estar em todas as cenas
apenas com a força da minha fantasia
e o bilhete único,
eu embrulho o presente
e entrego outra carta a ninguém
peço que preparem o gin
e apertem os tabacos,
eu me entrego na carta
e ninguém mais lê,
assim eu retorno ao primeiro encontro
e todos voltam ao sentido do fogo,
assam seus jantares
e cobrem os olhos antes de acordar
eu faço poesia como reprise
e organizo a minha presença,
a festa acontece,
outros rostos se encaram
os corações se embrulham
e entregam cartas sem destino,
parece que felizes para sempre
só acontece enquanto assisto
esse beijo que encerra
nos dedos
o sentimento do mundo
carrego nos dedos
o sentimento parece
de uma pequena criatura,
de olhos aparvalhados
de coração drenalizado
o sentimento eu carrego
o que é
pra mim o mundo
eu me pergunto
o que fizemos
das nossas delicadezas
o que fizemos
da espuma e do sal,
do brilho entardecente
dessa piscina vazada e calma
os corpos não se jogam,
o que os empurra
é a coragem
daqueles que foram negados
o sentimento próprio do mundo
daqueles que boiam
e comem ovos na ceia,
eu deveria ter apostado tudo
mas me submeti
a encenar a derrota
eu fracassei
só para me sentir
menos frágil
são nesses instantes
em que o olho
do furação
me olha
e arremessa sua fúria
eu sinto os ossos esmagados
tentando escrever mais um título
apostando o que não existe
em um jogo marcado
para que todos os vencedores
se sentissem
a derrota
eu abdiquei
até a dormência
que me fazia
sentir a paz
paz que eu nunca teria,
pois eu carrego
o sentimento do mundo
terça-feira, 3 de dezembro de 2019
Ana e o Mar
ao fundo azulado
às margens a larga praia
disforme teu corpo de areia
maresia o perfume teus olhos
tamanha ternura chorei junto ao mar
miragem o brio pincelada
merecia moldura tuas jóias
teu tesouro revestido pele e seda
teus contornos à mão e véu
verão suei inteiro assistindo
imaginei que não mais estivesse viva
pois o mundo era incapaz de tanto sonho
pensei que havia morrido nas águas
eu fechava os olhos e te via límpida
soava como uma onda atravessada
tu sorria e o céu escorria de tormenta
e me abraçava o sol e as ondas
e me engolia o sal e as espumas
e eu roçava nas conchas
eu beijava os corais teus lábios
devo ter esquecido do título
tenho achado os poemas chatos
é natural chegar a esse ponto
tendo que arranjar outra distração
para não fazer a Sylvia
ou arriscar fazer a Virgínia,
por aventura a César...
ainda não sei mas eu ainda
quero criar um novo modo
de fazer isso valer
eu tenho esse papo torto
e acho que eu tô desanimada
pra cacete
não sou locadora
pra ficar alugando
mas pareço aquela garotinha louca
pelo terror e pelo cabeludo da CAVIDEO
eu só queria que a minha cabeça
não acordasse doendo tanto tanto tanto...
só de pensar parece que eu tô inflamada
e que não precisasse querer acordar
no meio do sonho enquanto
eu fugia do Veloso e encontrava
biscoitinhos no banheiro
os banheiros são a miséria
lá a gente esquece que tá vivo
e deixa rolar
eu tô pensando merda...
as vezes pareço com aquele velho
que apostava nos cavalos,
alguns dirão ser o Buk mas
eu acho que era o meu avô
mas eu não o conheci para ter certeza,
eu só lembro da cadeira de balanço
e um silêncio de túmulo e biblioteca...
voltando ao velho Buk ou
o guardador de pássaros azuis
ele era um velho safado e alcóolatra
e eu lembro de uma vez estar na Bambina
fumando unzinho em frente à DP
chegou um cara de jaqueta de couro
típico crítico de bosta dizendo
que o velhote era só um reclamão
eu acho que eu tinha recitado um poema
que ele achou ser do velho
aliás eu sempre recito um poema
quem me conhece sabe
e acho que eu já enchi muito o saco
com essa coisa de poesia
e não adianta eu criar um nome
para isso
para essa síndrome
então me arrisco a dar nome aos poemas
tenho pena de mim as vezes
e fico achando que os outro também
ou é pena pelo mundo todo
e isso acaba refletindo em mim
eu realmente não sei mas talvez
seja por isso que eu precise esquecer
se não eu realmente vou fazer Torquato,
eu vou fazer Florbela,
eu também bebo e penso sacanagem,
mas eu não quero mais pensar
eu queria esquecer os poemas
e o porquê de ter começado mais um...
triste não é viver de solidão
nos acostumamos com a tristeza
e brindamos a ela sorrindo
deixamos que ela ganhe nome
e lugar no assento preferencial
e a medida que vamos morrendo
ela se torna amigável e besta
nos encoraja a escrever capítulos
a esperar o sinal abrir
assim desfilamos
assim nos sentimos
mais acompanhados
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