quinta-feira, 15 de março de 2018

Inventiva,
deito o jornal na cadeira,
procuro fogo
e te procuro com os olhos,
está por ali, orgulhoso,
diria porque do Sol eternizou
a cor do dia

entregue ao bule atravessa a cozinha,
pego o cigarro e te imagino exposto,
íntegro, de olhos acordados.

Prensado entre os dedos,
discuto sobre o dia de ontem,
passado, o café esquece dos assuntos.

Te imagino frio, molhado,
cavado no botão de linho "as vezes você me olha de fora,
desvia, e entra"
e tem vezes que tu me define
enquanto encontro as palavras.

São elas que te tocam, alguma hora,
alguns instantes será fulminante
a bênção da porta
Toc
Você entrando.
Você saindo.

Você e as notícias de hoje,
mais uma vez, o café e nós,
pra começar o dia.

Avesso, dobrado
e o céu transtornado,
hoje te parei antes da porta
pra te entregar um elogio
"a tempestade mais mansa
do que a rebeldia teus braços,
uivosos, pode entrar pro café"

e me diria sorrindo que o buraco negro
foi engolido.
É quando embora
pensa na volta,
mas agora iria sem pressa

Então você vem
Inventiva,
Encerro o cigarro no chão
E nua, arrumo um motivo
mais se parece intervenção

Procuro o fogo
Seus olhos
Um lugar específico para amar
o dia todo até notícias vazar
de uma manifestação

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