terça-feira, 27 de fevereiro de 2018
poema sem data
como se fosse simples encontrar retorno
fomos longe demais
você compra uma garrafa de whisky
e chama a garota mais legal da lista
A coloca ao lado da cama
e acorda como se nada tivesse acontecido
pega o celular e escreve
"onde você está"
enquanto está no banheiro
Você está arruinando tudo
e desce para comprar cigarro
volta querendo outro trago
você me transgride com palavras
segunda é solidão
diriam os poetas
As vezes volto pro mesmo lugar
ligando as distrações
você me desliga até dos dias
Os melhores discos e as conversas
Que só a luz vai te encontrar
Todos os filmes e os goles
Você merece os dias mais bonitos
As poesias em seu nome
As cores as comidas
Você pode ir sozinho
Que só a luz vai te encontrar
Todos os mimos e elogios
Você alcança as glórias
Sozinha e acompanhada
Pode seguir comigo se quiser
Mas pode ir sozinha
Que só a luz vai te tocar
quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018
Pensando um pouco
na vida,
tive vontade de correr
até os pés desistirem.
Quando o medo atinge o cérebro
o estágio final é quando o corpo
não consegue responder.
Meu corpo age de modo amedrontado
como vi um rato correr das pernas.
Pilhas de livros e de cotonetes,
tenho quebrado os copos,
assumi a cozinha.
Ganhei 6 quilos
A verdade é que cheiro de cebola
não sai do corpo até evaporar.
É bonito a cidade dos ângulos
que descobri,
o rio é muito fluído
e talvez o reflexo dos blocos
esteja espelhado nas poças de mijo.
É muito samba e alegria e tristeza aguda.
O mais difícil é findar o dia sem brindar
mas a gente faz festa por tudo.
Eu tô buscando definição pra beleza
que sinto respirar esse ar
tão rarefeito.
Desligo as luzes da casa,
afetiva.
Ainda lembro das aulas de história
buscando a glória que nos foi explorada,
mas o medo acende uma chama inegável,
ciente de que dormi boa parte do tempo
Resta um pouco de seriedade
na razão de estar vivo
a natureza afoita
como corre o rato perdido
o corpo socado no canto do mundo
depois de todos os descuidos
meu corpo ainda diz que me ama.
talvez por pedir desculpas por tudo
fui assumindo as culpas
já me era incapaz de assumir
que as dores do mundo não são minhas.
quando mal procuro escrever
como absolvição
em qualquer canto do mundo,
quis escrever a pai que todo cuidado
é pouco e
à mãe que todo amor do mundo
é pouco,
eles sabem
a culpa não é nossa,
mas unimos nossas mãos como culpados.
o sentimento na palma das mãos, culpados.
è talvez por isso que recebo castigo divino,
por carinho.
como Clarice, escrevo para salvar
talvez a mim mesma.
minha esperança chora devagar
junto ao céu.
como me dói o soco do mar.
Como me é profundo mergulhar.
a infância tranquila no corpo
fé e absolvição
somos cúmplices
desses carinhos
que são dados com os punhos das mãos.
Os Deuses enviados
Os deuses são bondosos comigo
Me ofereceram as uvas e o álcool
O açúcar da cana e o sal do mar
Me deram um sorriso prostrado
A cada vulto ao suor dos passos
E eu danço com paz no espírito
Arrasto os pés e sigo
Junto aos deuses bondosos
Ultrapasso os faróis e escrevo poesia
Porque me deram olhos singelos
E as cores todos os dias
Bebo e fumo na mesa com os deuses
Almoço e durmo
Me deram livros que me salvaram
Da morte na paixão
Os deuses são bons comigo
Fazemos feira e pagamos as dívidas
Dessa cobrança infinda
Eu gosto dos deuses
Eles me acreditam
Eu acredito neles
O quanto são bons comigo
Reviro
Iniciei a vida do lado oposto
Como se a pele virada pra dentro
Sucumbisse meu corpo
Em direção ao mundo
Mas de alguma forma o mundo
Ressoa e me retém
Em segredo dormimos
De acordo com as horas
Das cores no infinito
Me reviro
O mundo mexe comigo
beija-me muito
se te contentas com o sol
cortamos mangas maduras
e melodias improvisadas
uivamos o disco do dia
porque é simples contigo
correr a janela ver mais um dia
simples como o sol
ou estrelar um ovo
por mais que não tenhamos dormido
a manha surge conosco na janela
debruçando sobre a melodia
reproduzida os corpos amanhecidos
estrelas amarelas
e nuvens queimadas
parece simples acordar todo dia
e descansar no vidro morno
o sonho quente
manga cortada na geladeira
podemos tomar café
está no fogo a agua
quente o corpo banhado
agua quente
faz muito som o sol
chamuscando o corpo
a língua queimada vermelha
a manga amarela na boca
se te contentas com a luz do sol
beija-me inteira
sábado, 17 de fevereiro de 2018
sujeito composto
você dizendo não sente sozinho
há sempre o plural
de sempre há qualquer coisa
a mais
sejam aqueles amassos
aos caminhos
as voltas de carros
e chegar ate à casa
driblar o gatinho
saudade não sente sozinho
voltar
à luz da manhã
querendo ficar
mais e mais um pouquinho
saudades
os dois no ninho
cantando qualquer coisa
e o baião de dois
de par em par
pé do ouvido
domingo, 11 de fevereiro de 2018
Brilho
Só que é preciso um motivo?
Alguém um dia me contou das estrelas
e olhei pro céu e alcancei o teu coração brilhante
É verdade que escreveria todo dia
Sobre essa luz embrasante
Podemos contar histórias de nossos ídolos
e formas de fazer um bolo
Mas é tão simples
Que posso escrever todos os dias
Em qualquer lugar
Que esteja essa luz
Canto sobre as estrelas até
Alguém alcançar
sábado, 10 de fevereiro de 2018
Inferno
Vamos nos cumprimentar eu sou daqui e você vem sempre aqui?
Sim e você ?
Céu ou inferno?
Era céu mas oh meu Deus você dizendo fudeu foi foda
Temos uma vida inteira pela frente, ouvir Raimundos, andar pelados in Rio, croissant e pegar busão pra voltar
Subir la em cima e te encontrar na varanda
Foi num show do Caetano que um amigo seu quis mandar no repertório, a gente tá fudido, até a cachorra faz de conta que nada aconteceu
Mas subir la em cima
É foda
Te encontrar
quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018
Por nós a poesia que assino e recito assumindo a indiscrição de ser instinto por todos o motivo
Que o amor é a malícia dos fortes
E a fraqueza dos nobres
Quando rouca insisto gritar
É mais do que minha voz
Testando o silêncio incompreensível
Guardo recordação que não só minhas
Ilustram paisagens da memória fresca
Desbotadas pelo trânsito do tempo
É quando o sol raia sorrindo
Que o sorriso não é só o meu
Debruçado na estação de calor
Mas como é frio quando amor
Não só por mim a estremecer
É onda de senti-lo ser
Balé das asas
Era teu sonho
Mas teus pés não podiam
Eram tortos
Os caminhos seguiram assim
Se por Deus enviada
Há de ter resposta quando se busca
Parecendo o inicio de chuvisco
Num dia cinza de verão
Ouvia a rádio tranquila da cidade
Não me parecia absurdo existir
As ruas existiam e nos conduzimos
Falei novamente de amor
Acreditando em cada palavra
E predia o peito prestes a uma emoção
Que não tardava a correr
Por nossos corpos
O dia seguia
E a tempestade pancadas
De chuva víamos o cinza
Embaçando os olhos
Meu Deus
Teus olhos banhados
terça-feira, 6 de fevereiro de 2018
eternamente
evocado pela linguagem
- me revela
segredos que antes
fora preciso abrir trancas,
nunca tinha gostado tanto
de ouvir falar crônica
um amor silêncio
rangendo a boca voz
simples de adoração
foi só tua boca que revelou
palavras encolhidas
na superfície das línguas
um gostar
que sequer esperávamos
apesar de alienados
pelo amor desprevenido
tua boca abre como quem salva
de um náufrago mil corpos
só com a respiração
Amarelado teu rosto
parece que o sol
pintou teu rosto
profano amor disperso
não pense mal das ilusões
sequer esculpidas as muralhas,
coração fragmentado
o corpo e a matéria-
será preciso correr da cidade
até um buraco no chão
parecerá seguro
afastado da multidão
a multidão assustada
ao encontrar teu rosto
perdido da multidão
seguro entre os dedos da mão
parece que só sobrou
coração
batendo
parece que há um portal
parece ainda
que ninguém morreu
entre você
e eu
ouço tua voz
domingo, 4 de fevereiro de 2018
notícia de papel
que parecem retiradas
dum relato do jornal
o caso é
acreditar, amor
que visto paira sob o corpo
escrevi poema como quem viveu
mesmo o amor vestido
pro jantar
despido as roupas
sento a mesa fria
abro o apetite satisfeito
por mais uma noite
mais um poema
comido
retorno a cama
Incapaz de dormir
sem que tenha sonhado