Estou quase lúcida
E nua
Mas isso não importa
Esses traços
São arquivos autobiográficos
A lupa que tira o embaraço dos olhos
É de armação exagerada
Enquanto nasce uma espinha interna no nariz
Descubro a cicatriz na rua
Nessa curva
Que os dedos percorrem
À velocidade baixa
Uma manchete de jornal
Sua dor embrulhada
Esfregando a ferida
Um litro de cerveja gelada e
O dinheiro da passagem
Até seu coração
quarta-feira, 30 de setembro de 2015
segunda-feira, 28 de setembro de 2015
domingo, 27 de setembro de 2015
Tatuagem
você dizia que morrer de amor é mais bonito
enquanto a cerveja nos levava pro banheiro
com a mesma frequência
que eu via seus olhos adocicados atropelarem
as palavras que suavam em minha boca
enquanto a cerveja nos levava pro banheiro
com a mesma frequência
que eu via seus olhos adocicados atropelarem
as palavras que suavam em minha boca
sua cor é de um mel antiquíssimo
a Primavera nos faz tirar as roupas com mais facilidade
tocava um jazz nos fundos daquele bar de número ímpar
você dançava os dedos sob meus braços
e cada vestígio de sorriso
e cada vestígio de sorriso
eu anotava
a sua música me faz gingar as pernas
como se tremesse de espanto
como se tremesse de espanto
eu recitava paranoias
engolia sem engasgar
o recado escrito na mesa do bar
o pólen sugado de meus traços
a Primavera que acorda os pássaros em seu peito tatuado
domingo, 20 de setembro de 2015
Nua
Lá estava eu, de braços cruzados, segurando firme o coração que por um triz batia à sua porta; de botas cansadas e lendo o welcome to hell no tapete trivial e ainda úmido da chuva na sua entrada. A tempestade fazia folia, a mochila havia engolido o isqueiro laranja e recordo com remorso do cigarro que pedia fogo encolhido entre os dedos que trepidavam em ritmo submisso. Há recordações ainda da miserável nicotina querendo me ajudar a morrer de forma mais lírica do que em frente a uma porta encardida e quiçá mais rígida do que o seu pau em minha boca que pechincha um bocado de absolvição. Seu pau em minha mão. Seu pau tão em mim e essa porta maciça fodendo a minha entrada. Welcome to hell você diria mesmo sabendo que sou monolíngue e do meu espírito pagão. Seu pau em minha mão. Você me ofereceria o sofá-cama e o dilúvio que mataria a minha sede não se encontra em copo d'água. Nós saberíamos. O meu coração preso entre os braços era quem mais sabia, mas sabe-se lá se a água em festa na rua não serviria pra lavar minhas mãos.
Lá estava eu, nua, na rua, aguardando absolvição.
Lá estava eu, nua, na rua, aguardando absolvição.
sábado, 12 de setembro de 2015
meio acerto
eu esperei a chuva anunciada às 19h
pra tocar a nossa música na rua toda molhada
e te ver entre as bainhas das calças encharcadas
sorrindo com os olhos meio fechados meio me olhando
meio falando que o caos é tão bonito
assim de perto
mesmo que grudado à minha boca
tocamos o céu
eu ainda esperava a gota d'água
o vômito do bueiro e os ratos enfileirados
as cores embaralhadas dos guardas-chuva
o barulho da rua gritando a nossa música
empilhava as bitucas no cinzeiro
meu cabelo ainda transando em seu travesseiro
e os seus olhos
assim meio exatos meio claros
tocam o tumulto que há em mim
pra tocar a nossa música na rua toda molhada
e te ver entre as bainhas das calças encharcadas
sorrindo com os olhos meio fechados meio me olhando
meio falando que o caos é tão bonito
assim de perto
mesmo que grudado à minha boca
tocamos o céu
eu ainda esperava a gota d'água
o vômito do bueiro e os ratos enfileirados
as cores embaralhadas dos guardas-chuva
o barulho da rua gritando a nossa música
empilhava as bitucas no cinzeiro
meu cabelo ainda transando em seu travesseiro
e os seus olhos
assim meio exatos meio claros
tocam o tumulto que há em mim
sábado, 5 de setembro de 2015
Isso seria uma carta se o endereço do destinatário existisse
I
se é que posso ser sincero
II
se é que posso ser sincera de verdade
eu e você não existe
nem há realidade no instante em que te escrevo
se é que posso ser sincero
eu não te quero em minha cama quando o sol anunciar
que somos um erro à luz do dia
não quero viver em seus poemas que só falam
não quero viver em seus poemas que só falam
sobre um amor incompatível com o meu gesto libertino
se é que posso te dizer a verdade:
somos uma mentira
até os seus olhos não existem quando fecho os meus
se é que posso te dizer a verdade:
somos uma mentira
até os seus olhos não existem quando fecho os meus
nos segundos em que te perco em infinito passional
composto por cílios, pele e distância entre dois corpos
II
se é que posso ser sincera de verdade
eu e você não existe
nem há realidade no instante em que te escrevo
pois apenas possuindo olhos lendários
não é possível notar
que enclausuro versos em sutilezas do seu olhar
que enclausuro versos em sutilezas do seu olhar
enquanto o meu cadáver inquieto aguarda a eternidade
leio a sentença em seus lábios escorregadios
leio a sentença em seus lábios escorregadios
declamando o lirismo inexistente e ruas da cidade
só com o intuito de afogar cinzas e um pouco de rima no lençol azul piscina
a verdade é que a gente não existe
mas há livros que falam sobre o romance escrito
a verdade é que a gente não existe
mas há livros que falam sobre o romance escrito
em nossas trocas de olhares
os seus olhos
são o próprio infinito
mas eles não possuem vida
fora dessa poesia
III
você é vazio
quando não está em mim
os seus olhos
são o próprio infinito
mas eles não possuem vida
fora dessa poesia
III
você é vazio
quando não está em mim
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