A poesia degolou minhas virtudes de mulher
E o meu desejo de mistério mentecapto
Mostrando aos outros
O pouco que eu já não possuía
Não temerei os insanos, lúdicos
Que insistem em bater à porta trancada
E não temo o monstro que fez morada
Dentro de minha alma
Não tenho medo daqueles que zombam da dor
Onde deveras aqui existe
Ou estranhos suicidas românticos
Leigos de amores
Temo com violência a minha rima
A poesia que não dorme
Insistente em despir minhas lacunas
Com as mãos macias de solidão
Estou amedrontada por versos que querem viver
A vida que não existe em mim
O amor que reneguei com afinco
Sob a pena de angústia perpétua
Ela é a minha amante, senhora, dona
Desgasta minha fonte escassa
Deleitando-se da mordomia de ser vulgar
E não somente minha
A poesia marcou minha existência
E transformou-me nessa discípula dos sentimentos
Agarrados ao ventre de criações:
O desacreditado coração
A miserável poetisa está escravizada pela poesia
Que a devora através dos pulsos
Alimentando-se desse medo repulsivo
De ser revelada em prosa
quinta-feira, 27 de março de 2014
sexta-feira, 21 de março de 2014
Chove poesia
Você é o canto bonito que existe em mim
disse ele, sem querer chorar
porque chorar era fraqueza em um mundo
em que os olhos são desertos
Eu não compreendo o que ele quis dizer
se me vê como morada da própria vaidade,
um canto para refugiar-se com cheiro de tinta fresca
sem mobília pois o vazio ocupa muito espaço
entre nós
Se sou música amanhecida e fúnebre
canto de passarinho que chora a cada manhã
por não ter morrido antes do sol flertar o dia
que é pesado,
cinzento
Os olhos dele articulam esse mistério
mas eu não aprendi a ler poesia de mudo,
muda mais rápido que a posição dos ponteiros
do relógio que grita
o tempo que não nos sobra
Bem capaz dele querer nada ter dito
e eu, desvairada, nadando fundo
nesse abismo sem escrúpulos
Não sei em que estação me encontro
porém o vagão de chuva anuncia
que pouco fui e nunca serei
aos olhos de Poeta
disse ele, sem querer chorar
porque chorar era fraqueza em um mundo
em que os olhos são desertos
Eu não compreendo o que ele quis dizer
se me vê como morada da própria vaidade,
um canto para refugiar-se com cheiro de tinta fresca
sem mobília pois o vazio ocupa muito espaço
entre nós
Se sou música amanhecida e fúnebre
canto de passarinho que chora a cada manhã
por não ter morrido antes do sol flertar o dia
que é pesado,
cinzento
Os olhos dele articulam esse mistério
mas eu não aprendi a ler poesia de mudo,
muda mais rápido que a posição dos ponteiros
do relógio que grita
o tempo que não nos sobra
Bem capaz dele querer nada ter dito
e eu, desvairada, nadando fundo
nesse abismo sem escrúpulos
Não sei em que estação me encontro
porém o vagão de chuva anuncia
que pouco fui e nunca serei
aos olhos de Poeta
quinta-feira, 13 de março de 2014
Sopra o vento essa despedida
Estou desistindo de nós como da vez que deixei de comprar balas de framboesa pois o sol estava quente demais para sair da nossa casa. Você pode pegar seu halito de amêndoa e esfregar em outras bocas rançosas de febre, estou desistindo. Retorne àquela cidade sem luz, seus pais ficaram por lá com os pés empoeirados de areia regional e os olhos alagados de saudades. Pois é, eu respirei sua falta sacana por dias e já me acostumei com esse sufoco demoníaco. Fiz promessas para algum santo a fim de esquecer sua imagem, porém minha fé é pequena demais para passar uma borracha no seu rascunho, fui vender minha alma mas ela é tão surrada quanto sua camisa de inverno que guardo debaixo do travesseiro pois aquele cheiro encardiu-a com um perfume que não sai mais de mim. Meu querido, eu estou desistindo e só o vento que entra atrasado por essa porta de alumínio pode me fazer chorar, ninguém consegue vê-lo ou amá-lo, mas choro porque ele é o único que sempre esteve aqui arrastando para longe essas cartas tolas de despedida que reúno ímpeto para um dia te dar.
quinta-feira, 6 de março de 2014
Alucinação
Conheço fundo teu sorriso
que arde como lâminas no meu suor,
sufoca meus suspiros e desenha tatuagens
sugando as forças que já não tenho
bisbilhoto nas gavetas da memória
uma razão para não te querer
elas gritam! Escapa um eu te amo lírico
Regozija sem pudor a minha sina
de quem não sabe onde colocou a lucidez
ou os brincos de diamantes
que não brilham pois a noite evoca
o luar mais presunçoso
Possui um peito demais profuso mas que
não suporta minha feminina solidão
desmedida e surrupiada
Me ganha com facilidade
me abre e esgana
amando afinco sua própria vaidade,
eu, por medo ou poesia, morro de amor
aceitando essa insanidade
terça-feira, 4 de março de 2014
Próxima fase
O carnaval devaneado
teve fim junto a outras festas
e noites não dormidas
Troquei alguns móveis junto a mágoas
e descobri um abismo
incoerente no canto da casa
Retoquei a maquiagem do rosto
já desfigurado de uma personalidade
extraviada
O coração permanece eufórico,
medroso e quente
pois ele sabe sambar
Só quem mudou foi a Lua
que passando por uma fase de amores
tornou-se hostil e não quer mais amar
Os namorados terão que esperar o eclipse passar
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