Esquece aquela poesia que te fiz embriagada, os sonhos que embrulhei com fitas de cetim e joguei no lixo do próximo quarteirão. Você vive tão sem endereço que nunca consegui realmente te achar, não me dê seu novo número porque eu não vou ligar ou te mandar uma mensagem medíocre dizendo que senti saudade do que fomos, um dia isso irá amenizar e as marcas servirão de tatuagem. O chá de maçã foi sobrecarregado de açúcar e o que falar do meu amor? O meu amor me consumiu. Rasgou minhas roupas, sujou minhas botas, esgotou a conta corrente, esvaziou a despensa. Eu consultei uma cartomante e ela falou do meu futuro falido como quem chupa bala de hortelã, disse que você vai voltar quando meu coração estiver frio, que minha alma estava tão ardida quanto a boca dela e me recomendou um analista. Voltei pra lavar as louças que você sujou. Achei várias feridas empoeiradas embaixo do tapete indiano e debochei do nosso amor descartável, do anel de aço, dos orgasmos fingidos. Lembrei que você vai voltar depois de ter achado o mundo muito chato e aquela mulher barata demais, vai querer fazer parte de minhas paranoias mas eu não serei a mesma.
Abri o congelador e peguei aquela cerveja que você esqueceu,
Estava congelada
Essa cerveja sou eu amanhã.
''Você vive tão sem endereço que nunca consegui realmente te achar''
ResponderExcluirDe tão angustiante, lindo. Tudo tão lindamente sonoro e fugaz. Da maneira que o ponto final encontra a poesia.
Lindo é teu comentário, Hellen.
ResponderExcluirToda cerveja congelada se liquidifica de novo. Não fica tão bom quanto antes, mas dá pra tomar.. hahahah
ResponderExcluirFica péssima, mas dá haha
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