terça-feira, 10 de novembro de 2020

o poema no tom 
dos dentes de um fumante 
parei para te tragar
você talvez comemore só 
ano que vem
ou mêses atrás
ou tenha se esquecido
de que há festa com o que nos sobrou 

ainda hoje eu descosturei
a minha casquinha
ouvia você dizer 
que o amor é como uma livraria 
depois que você tem o livro em mãos
é preciso decidir se vai lê-lo 
ou pedir para embrulhar 

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Dorme, meu filho


Dorme, meu filho

pois a sombra reclinada 

é somente o encosto da cama, 

deleite do teu descanso 

 

Rostos às luvas

expostas fraquezas tuas,  

descubras 

o mundo moço 

na palma das mãos

 

Quererás dessa mão dormente 

apoio,

verás o rosto 

em desespero, 

mas serão gigantes 

os teus poemas

 

Há de encontrar face

a te perturbar, 

a solidão não será

mais somente tua,

mas de um desconhecido

 

Ao desvendar a glória

acreditará estar vencido, 

talvez pelo ego 

que te definhas, 

talvez pelo gosto agridoce 

no caldo da boca

 

Dorme, meu filho

amanhã sabemos que virás

ontem tu sabes que já foi

agora tens o sonho de um menino


domingo, 8 de novembro de 2020

nos engole

Mandei uma mensagem:
Tua poesia me sacia 

Sei da sede e do amor pela boca embebida 

A cidade nos engolindo

Amo teus versos

Assim como amar a ventania 

Se perguntar por onde andei? 
Sigo lento tuas ruas 

Trocando papéis

Desesperada dentro da cidade

Nos engolindo

No vento do gás vento, dentro torneira sem água: no teu coração o sentimento aquático 

Foi assim que descobri no teu poema um pedaço perdido de terra

sábado, 7 de novembro de 2020

ser antes do querer a luz vermelha

quero ser antes a mulher que escreveu 
na beira dum pedacinho de mapa rasgado 
chamar de estado algo 
cativo ao silêncio distraído 

quero ser para você o que seria à mim 
a esfera do brilho inteligível
oco órbita dos astros  
galopando ao som de pássaros levianos

quero ser para mim o que somos 
além dos famintos túneis
cavando a solidão dos vagalumes 
transe das eras 

não quero ser mais nada 
além de saciada pela palavra
seca dentro de um abajur 
no centro do coração de um âmbar 

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

todos esperavam pelo poema número um

todos achavam 
que eu não duraria tanto
que a esse ponto não me atreveria 
a romper o gelo seco a preparar mais uma

isso não quer dizer 
que não esteja cansada
disso eu sei mais do que todos 
que esperam espantados a minha durabilidade

para dizer a verdade eu e todos 
não esperavam
que a essa hora eu estaria aqui
em qualquer lugar escrevendo

para ser sincera 
eu estaria escrevendo
em qualquer lugar
mas que chegaria a esse ponto
nem eu esperaria 

terça-feira, 3 de novembro de 2020

fiz uma longa viagem

avistei a curva do tempo
no seu corpo

pensei em como a vida é cumprida
e o amor tem suas paradas 

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

quero findar essa noite 
acorrentada 
de enfeites  
nascida do meu umbigo 

esse fio-entranheza que me une
ao ninho de espuma 
descende do meu ventre, no centro 

correr pela sala varrida 
não necessariamente olhar para os lados

nessa rua mora um bicho
que se chama vontade 

quero brincar com o seu relógio
como se o tempo fosse tudo
o que não esperávamos 

quero não querer nada além
do desejo