Naquela semana, cheguei mais cedo ao museu todos os dias. Das nove às sete. Estou obcecada pelos papéis, as mãos enluvadas por finos cortes finos, sinto o cheiro da minha insônia avermelhada. Páginas e mais páginas. Rosângela me chamou para conversar. Na noite anterior houve o lançamento do Rodrigo de Souza Leão, eu disse entre risos, estes amarelados como os papéis e os dentes das feras, que eu queria entrar para o museu, mas que antes deveria estar morta. Me viu sondando uma nova pasta do Lúcio Cardoso, revirou os olhos de atenção. Você precisa de alguém para cuidar de você também. Não vá enlouquecer. Você deveria tomar um sol aos domingos. Ver o mar, mas não se afogue até os olhos. Fico sem palavras nos momentos de intensa seriedade. Não consigo mais esconder o meu labirinto, finco os rastros com afinco. O arquivo me tomou o sol aos domingos.
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