embora ela seja visivelmente justa,
que nos tenha sido arrancada
a infância
encaixo-a (a infância, a tristeza)
nos poemas dominicais,
me encolho no ventre da tarde,
penso com os meus lençóis
que os Deuses
nos abandonaram no berço
dentro de uma banheira sem fundo
Rosa especularia que o rio tem
três margens, saibamos
afogando que o mar não está para os
peixes como está para os cardumes
e que por mais que a gente se debata
é só através do choro (da lágrima, da tristeza)
e então nós nos afogamos
com a delicadeza daqueles
que supõe que lhes foi
arrancada
a única coisa
salva desta infância,
onde nos teria sido permitido
chorar sem os olhos, sem fundo
o mar ausente de animais marinhos
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