sexta-feira, 28 de outubro de 2022

variações de uma língua

três tigres tristonhos lambem 
a leitosa face platônica dos minérios

a roupa despenca dos varais 
finos tecidos tecidos em couro carnais

acena do asfalto um autor amarelado 
o coração para fora no fio da rua

Dante, o cachorro do italiano 
São João dependurado pelo colar 

a lambida dos tigres são variações 
um beijo de travar o tráfego 

quinta-feira, 27 de outubro de 2022

esse rosto eu não tinha

atraves- 

sou-me

o fato
o gato
a poesia

ficção-poética 

transa, amazônica 
esse rosto eu não tinha 

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

corpus-corpo

é poesia aquilo o que cobiço 
deita no amanhecer do meu umbigo
delírio amarelo te persigo, insisto 

o rosto enrugado uma flor no cio
dois corpus se abrindo, nascer-vínculo 

sábado, 22 de outubro de 2022

horário de pico

o peso dos relógios Sob o cangote
dos cangurus os bolsos a/travessa/
dos

ouvi de fato d'uma foto a imagem 
relevo
re/levo
nunca te toquei para saber

qual o ruído do teu silêncio alcançaria 

mas haveria de ter algum endereço
assim eu ousaria despertá-lo
o sangue

doce, tão doce imaginado 
a insônia dos esquecidos es/correndo

terça-feira, 18 de outubro de 2022

azul e o elo

faço de tudo para ver o pouso 
desta pomba: cidade pobre
atravessa o cinza das grades 
oxidadas oxítonas monóxido 
de carbono azul do seus pelos 
encrespados pela água oxigenada 
um exagero o reflexo do sol no seu braço 

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

mancha gráfica

procrastine o poema e amordace-o 
fruste a função de um poema mordido 

três copos de vidro e um anel de metade
ouro metade metal 
o rosto de um vampiro
no parabrisas estatelado e letal 

anoitece bem antes da noite anoitecer 
os olhos dormentes dos autores 
ainda é cedo para não ceder 

há quem diga que eu dormi de braços
cruzados era apenas o meu modo 
de demonstrar cuidado 

até as roupas de cama envelopados 
poeira até entre as palavras e os quadros 
mas permitimos que as aranhas morassem 

conosco os fios de telefone sem fio 
da vida eu só levo o meu batom 

sábado, 15 de outubro de 2022

humaitá

a palavra que desfila e manca
o rosto de um garçom atrasado 
na mesa sorri e acende o cigarro
devagarinho a chuva teima em nos pisar 

são cenas infames essas as quais você lê
pra mim escorado no topo da cadeira 
mas eu queria te perguntar se 
você não quer dormir 

eu poderia do que ouço do teu peito dançar  
aqui, mas eu não conseguiria, tão baixo 
confesso. deixo as tuas mãos agirem 
sob os meus cadarços 

eu que me declino por poemas por ti
mas você faz que suspende as mangas 
você é uma árvore escondida 
à sombra de uma outra árvore 

e eu não sei da fauna além da suspeita 
qual o signo do teu próximo filho? 
poderíamos ser aqueles que teimaram 
em acordar as ruas aos domingos 

segunda-feira, 3 de outubro de 2022

cortes/toques

um poema que encena 
a língua
(corta) 

sombra de asas e armadilhas
cessar fogo, queimaram
as páginas! 

do poeta antilírico
escorre um filete
sangue
lágrima
ou suor empírico?

um poema conta-gotas, contra 
um poema mais fino
do que faca de aço fino

um poema disfarce
a face do poeta 
soaria fidedigno 

sábado, 1 de outubro de 2022

os vilões te moram, te miram

este odor, a sua presença
adentra por todos os finos aços
das lâminas por onde se insinuam 
as cabeças, as cobras

você e a feição de uma fera
sem arbítrio, uma rosa carnuda 
o meu gesto delírico, quem te assiste
acender uma vela e os olhos afiar 

quem te mira, quem te viu rastejar 
mas eu que incorporo o seu rastro 
imagino que seja o seu rosto - um astro 
projeto de uma sombra a se dissipar