“Essa solidão, para abordá-la, é preciso atravessar a noite”
Feito silenciamento, sinto as palavras embargarem a escrita. Se escreve apesar do desespero, e aliando-se a isso. Estar livre, selvagem e úmida, urgir e sangrar a carne e a tinta, remoer e glutinar um corpo descartando o medo, há pavor, nunca se está realmente só.
A casca descasca as paredes da casa, o corpo, um corpo rígido, violento, o território extenso entregue à página. Firme, seguro e infindo, tecido e cal, rotina e nada. Nada foi escrito que não se possa dizer, é nesse atravessamento de muralhas que o escrevente permanece inquilino de uma muda solidão.
Impossibilidade de travessia, trânsito dos silêncios em arquivos indisponíveis, o relógio sempre acima do tempo de reclusão, inumerados sistemas submetidos à mercadoria dos afetos – amanhece quando a escrita acaba. E morre o diálogo. Morte à fala cortada antes do verso. Duras declara que tudo escreve. Tudo
diz.
“Sou a banalidade. O triunfo da banalidade”
*título: ensaio de Marguerite Duras
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