domingo, 16 de fevereiro de 2014
Ônibus laranja
Meus pulmões estão enfastiados de nuvens e o céu perfeitamente limpo, a marca de cigarro mais barata já satisfaz. Hoje a lua está cheia, estou igual a ela, mudarei de fase e quem sabe esvazio ou fico incompleta. Não toco mais os mesmos discos empilhados, pego outra linha de ônibus e larguei a dieta milagrosa por uns quilos que deformam ligeiramente as curvas longas do corpo. As roupas de lycra já não me servem, não caibo mais na rotina suficiente para fazer uma mulher feliz, fumo outro cigarro para aproximar a morte. Aproximo-a junto a alguns temores de infância que me acompanharam, tem um homem escondido no armário que não quer sair pois tem medo dos meus pesadelos, a boneca de algodão ganha vida mas não quer ser a minha companheira de chá pois eles estão sempre muito amargos. Sinto saudade de sair correndo enquanto quase perdia o ônibus laranja, ele era quente e mesquinho, nas costas as cadeiras guardavam frases que me arrancavam sorrisos ágeis, aqueles corações mal calculados tinham a sorte de estarem intactos pelo fato de não serem reais. Eu tenho um coração real e ele queria estar pintado naquele ônibus que eu não pego mais pois eu mudei a direção, abandonei aquela rua aquecida de folhas secas e não preciso mais correr. Estou obesa de nostalgias e a cada dia ensolarado que passa me despeço de uma parte do que fui. Queria voltar a ser aquela criança dos lábios falantes, frouxa e com os pulmões virgens porque crescer só aumentou minha fobia.
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Gyyzelle, adorei o texto. Também eu me sinto muita vez assim. As memórias fazem-nos tristes, mas também nos fazem alimentar a esperança em melhores dias. Sejamos sempre crianças. :)
ResponderExcluirKiss
Um olhar para trás, pausa, o próximo passo pode esperar. Mas nunca será igual àquele que impelia para o autocarro laranja...
ResponderExcluir(Gostei muito do blogue)
Amadurecer é ver tudo fazer cada vez menos sentido.
ResponderExcluirGK
Belíssimo texto, como sempre!
ResponderExcluirxx
Nem sei o que dizer boquiaberto que estou por leitura tão marcante.
ResponderExcluirCadinho RoCo
house of orange awe by ramonlvdiaz
ResponderExcluiri could embrace you, lay hundred laws
to last less strange but i still miss
what outside me range kinds of sleep,
what your concentric wait awake from
closet monsters eating dark tomorrows
and what we pretend on empires states
with sun always east and golden gates;
lotteric winners by the devil horizon
and routines to sleep again and maybe
shadow previous dreams, rewind those
children who cannot how to heart grow:
to wind and words beyond autumm leaves,
afternoon without match perfect colors
on landscape screen - scream dark dawn
and goes and goés to extraordinary feel.
to travel without space & first hyperion
song of saffron chakra and offside peace
to lounge underground at são paulo noise
anything saint when the archangel skyfall
to the imaterial ground where everyday you
almost live these fake taste of minerals
paramount and parameter petrified men all
those ratios of fathers and patterns to
spread sketches of sweet alabama highway
drive-inn, worn-out: everything dead end.
who knows how love is out of proportion,
and what color is the right one to answer
gods and dices never cease to come and go:
you want everything, and this final desire
is the unberable beauty with no becoming.
Oh céus, que honra!! Que coisa linda, arrepiei-me. Obrigada
ExcluirAgradeço aos comentários, isso só me motiva cada vez mais
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