terça-feira, 19 de novembro de 2013

Esse sonho é meu

No fundo daquela casa
tão soturna e cheia de angústia
o meu amor se escondeu

Naquela casa faltava alguém
faltava cor
faltava parede
só não faltava dor e uma velha rede

Aquela casa guardava um espelho antigo
e ele refletia a beleza da
fruta amor
madura e viçosa

De tanto amar a casa transformou aquela menina
numa prisioneira
trancou suas portas
colocou lenha na fogueira
chorou e transformou o drama numa tempestade

Essa casa sou eu
insegura e completa
Esse sonho é meu

domingo, 17 de novembro de 2013

Soterrada em silêncio

As folhas desse dia morto
caem a sombra cobre
o meu cabelo
gotas navalhadas
o silêncio

Silêncio
transcrevo em livro

Você não me lê
na estante mofada a voz guardada
sonetos distantes nua
vulnerável espera seus dedos
folhearem versos curvos

Diz pareço insana
cato folhas do chão
para cobrir o livro as noites
em que passa frio
congelado pela frieza coração

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Soneto do esquecido

No museu o quadro de palha enfeita a borboleta
dançam as águas rebeldes no fundo branco
torce uma gota de lágrima o vento sortudo
a natureza assovia um choro mudo

Tempestade enfeita o céu escuro
lanças ocas cortam abismo
fazem o seu espetáculo um piscar de nuvens
traçando batalhas inúteis

Um pequeno intruso abre o azul
já muito maltratado luta contra si
um homem velho está ali

Morre as ondas numa correnteza de dar nó
morre o homem 
num quadro esquecido do brechó 

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Arco-íris de tinta

Pintei os cabelos de verde-água, essa cor-de-vida combina com as plantas que ele insistia em me trazer furtadas de um jardim qualquer, eu sempre me fazia rir daquele sorriso ordinário, ele calculava meus atos e disso fazia sua peça pessoal. O leque de cabelos pintados só não são maiores do que as vezes em que me peguei perdida no escuro daqueles olhos calculistas, tão pretos quanto o céu sem lua daquele domingo em que me prometeu amor bandido. No verão passado foi a vez do loiro, ele sufocou a minha sina com os lábios enfervecidos, dançamos sobre as margaridas amarelas e nem por uma noite eu consegui dormir sem suspirar de agonia sabendo que aquilo um dia virar-se-ia lembrança de um livro amarelado. Roxo-beterraba, vermelho-sangue, azul-borboleta, são tantas cores com codinomes bonitos que estão enterradas em fotos polaroides que estremeço quando penso em procurá-las.

Minha casa está encardida de uma cor que se chama amor, mas ele foi procurar o arco-íris nos olhos da menina-flor e deixou em minhas mãos aquarela que não tem mais vida. Eu pinto meu cabelo para tirar da cabeça a cor daqueles olhos fundos de tão, tão pretos e trago agora um cigarro para pincelar o cinza-morto da nossa estória que só durou algumas estações, morreu na primavera como uma planta que cai, da cor desse meu cabelo desbotado verde-solidão.

sábado, 12 de outubro de 2013

crônica de tristeza passageira

Cheguei ao ponto crucial, faz sol de arder os olhos e estar doente a pouco não faz descaso às conclusões. Descobri que sou covarde, soubera, fraca e medíocre, não somente porque deixo de desfrutar coisas boas por razões fúteis que, inexistentes; ou porque sou capacho de prazeres alheios, vivi angustiada, todas as passagens da vida fui covarde e; mas sou ferida, uma crônica de tristeza passageira. Deixei passar tanto e passei também, passei e não há buscas, entrei no abismo de covardia, e eu me consolo com pedaços atormentados de existência. Deixei de sonhar e não há morte pior do que não ter sonhos, implorando sem voz para ser achada onde um dia desapareci.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Narciso

O papel escondia a angústia que sentia 
Rabiscado de abismo,
O poeta sobre si escrevia 

Algumas vezes ele, modesto papel,  
Pagava pelos erros de uma palavra mal dita,
Logo era trocado pelo lote mais caro

A lixeira ainda frívola de versos vivia carregada 
Intragada pelo gesto de asfixia, 
Transbordava

Quem mais sofria era aquele lápis de marca
Remoto, profícuo, ligeiro 
Preso por mãos inseguras 

Tornara-se frágil, por pouco logo
Desapontava, por ser do parnasiano poeta,
O espelho narcisista  

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Retrato

Olhos tristes
mostram a saudade de mãe
gerou filhos e os cuidou
quando ela que precisava de cuidados

Um vestido longo de brechó
cobre gentilmente o corpo
e o corpo dessa mãe já velha
esconde um coração novo,
de criança afobada

Ela sorri e as nuvens
desaguam felicidade,
as curvas de rugas são os caminhos
traçados por ela,
chove saudade de mãe

Onde ficou perdida tua paz, mulher?

Com os pés cansados
se levanta antes da luz flertar o céu
as mãos enrugadas são retrato de um
destino fatigoso, que suga pouco-a-pouco
as forças dessa mulher incansável
ela precisa de repouso: amor