Pintei os cabelos de verde-água, essa cor-de-vida combina com as plantas que ele insistia em me trazer furtadas de um jardim qualquer, eu sempre me fazia rir daquele sorriso ordinário, ele calculava meus atos e disso fazia sua peça pessoal. O leque de cabelos pintados só não são maiores do que as vezes em que me peguei perdida no escuro daqueles olhos calculistas, tão pretos quanto o céu sem lua daquele domingo em que me prometeu amor bandido. No verão passado foi a vez do loiro, ele sufocou a minha sina com os lábios enfervecidos, dançamos sobre as margaridas amarelas e nem por uma noite eu consegui dormir sem suspirar de agonia sabendo que aquilo um dia virar-se-ia lembrança de um livro amarelado. Roxo-beterraba, vermelho-sangue, azul-borboleta, são tantas cores com codinomes bonitos que estão enterradas em fotos polaroides que estremeço quando penso em procurá-las.
Minha casa está encardida de uma cor que se chama amor, mas ele foi procurar o arco-íris nos olhos da menina-flor e deixou em minhas mãos aquarela que não tem mais vida. Eu pinto meu cabelo para tirar da cabeça a cor daqueles olhos fundos de tão, tão pretos e trago agora um cigarro para pincelar o cinza-morto da nossa estória que só durou algumas estações, morreu na primavera como uma planta que cai, da cor desse meu cabelo desbotado verde-solidão.
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