quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

John

escrevo porque te pertenço,
permaneço na trama dos teus ouvidos

te escrevo porque pertenço 
à legião dos poemas,
das rimas 
que te roubo às mãos

(para rimar um poema em teu nome) 

escrevo porque neste bar 
só o teu nome soa, sua, destoa 

porque improvo uma entoação,
minha boca na tua o ato de uma profanação 

segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

Judith

hoje esbarrei com Judith. com a sua escrita veludo, pelica ou uma textura sem nome delicada. confesso estar inclinada a modificar a minha trajetória, o meu enredo projetado, mas isso ainda é um segredo e uma confissão até então para mim também. me apaixonei pelo que Judith escreve, inédita, pela sua sombra projetada. o seu projeto de arquivo-mulher assombrada. Judith está nas minhas mãos, manuscrita e sinto neste instante uma euforia de noite estrelada. conto a mim: você não deveria olhar para trás. mas inclino o pescoço com a ânsia daqueles que não previram o decaptamento, a inocência de um cão de dentes afinados e boca jubilada. afio as minhas garras aos papéis de Judith. Judith, Judith desliza como um mel ardente, perfilando a minha jugular. eu, que delirante deslizo em suas mãos ardis. que delirante me enfio em seus papéis febris. que delirante me afilio ao seu nome. Judith. 

Margarida

afirmo, de pés cruzados, fina, que quando estou com ele as luzes do bairro piscam, como pistas, seus olhos ardendo dentro do meu rosto, como uma câmera em 3D. ele faz como que eu me sinta a margarida que me olha dentro do concreto encostada à parede desse bar sem título. assim, revogo a minha missão de paz de amor, entro em um luto impreciso: morro ou nasço ou então já lamento não poder dormir em seu braço até a dormência das horas? as horas em que a margarida me olha, afirma, de pés cruzados, fina, que as luzes piscam. 

replay

aquela música 
que a gente escolhe 
para ouvir e nunca mais 
terminar

a duração do seu beijo