domingo, 25 de setembro de 2022

da varanda do seminário

vez ou outra vejo o meu gato
da janela se espreguiçar
eu penso
além de olhar
a vida apressada 

dos seus olhos
o desejo de saltar

ele me faz de aperitivo 
mal nos despedimos
e o convido para jantar

antes corro 
ao toilette 
e ela me escuta mijar

o que há 
de menos ou mais? marginal
visto um vestido vulgar
em um dia vulgar 

armados são teus olhos 
me lambendo 
é a primeira vez 
que não sinto que vou me jogar 

sábado, 17 de setembro de 2022

poesia às horas insones

trouxe
-nos 
a mim de um sonho 
arrancada
 
(vim 
de uma vida passada)

e acabei escapando por um ruído 

dos dedos brutos de dentro
da realidade,

houvera uma vez aquele "menino que 
carregava água na peneira" a 
-nos 
trazer 
o sol de bandeja 

eu

que pouco acordo 
ainda que tenha 
arregalado os olhos 
estreito o corpo de sono e "aspas" 

(o teu rosto 
que pouco acorda)

ainda que tenha 
os olhos esticados 
espreguiça
-me 
o sorriso- 
às madrugadas 

terça-feira, 13 de setembro de 2022

adeus à linguagem

você me diz: digamos 
adeus à linguagem
pregada à língua
tão estranha 

você que revela ser 
o quadro à parede
o retrato da dor à cruz
cruzo a sua entranha 

você que o silêncio me apanha à mão: 
como prefere que eu o traduza?

sexta-feira, 2 de setembro de 2022

uma fotografia

Fora delírio. Uma inofensiva palavra
a palpitar no pulmão seco de um rio
às margens, a memória de uma imagem
supensa como um corpo enforcado. 

O seu rosto. Uma ofensa às tardes
em que o sol se esconde, você 
que surge feito uma única bicicleta
em uma ciclovia deserta, desabitado. 

Você. Que se esquiva das palavras,
das imagens, desprevenido. Como se fosse 
breve o tempo dentro de um poema,
porventura um delirar desinibido.