Febre olhar enredado na colcha de rosa
Voltara-se fervilhada a estação
Sentia murchar das dobras do tecido
O restante de vida enrubescida
Apelara aos modos mais distintos
De pulverizar o sentimento embotado
Se por ventura ousada queimadura sob as chamas
Era de modo alvoraçado a quentura
A lhe cobrir até os pés
Tossia de modo impertinente
As cinzas que lhe cortinavam o corpo
Debruçada na mantilha da noite
Tardara a descobrir que se chamava
E de faísca conspirava o próprio nome
A chama inomeável
No intervalo das manhãs ferventes
Era relevante o engodo a chuva e o orvalho
Cantando-lhe sob o corpo sensações
Sentir-se flamada de verão
Desejava apagar em meio ao tempo
À qualquer exaltação de calor
Como quem nunca vira luz
Sentindo-a ferver
Dormitava feito botão fechado
Desfechos; sonhares calorosos
Fulgorava tarcituna no leito dos olhos
Bastava abrir ou fechar
E o tic tac
Era chegada a hora!
Inclinava-se que velasse em repouso
Soprar a porta um estrondo
Ergueria o corpo feito sol de domingo
Acendida pelo baque
Era bastante que surgisse
Assim como de repente lambendo
Toda incerteza de acordar aguardada
Raiar de um dia tua chegada
gusla da saudade - cruz e sousa (in. O Livro Derradeiro, 1961)
ResponderExcluirNunca mais, nunca mais esses teus olhos
Palpitarão nos olhos seus honestos
Nem hão de vê-lo em ânsias por escolhos.
Ele morreu, morreu - e os mais funestos
Lutos da dor feriram como abrolhos
Teu lar e os teus - serenos e modestos.
Que incalculável explosão de prantos
Não inundou as almas preciosas
Dos teus irmãos, da tua mãe - uns santos
Que peregrinam nestas lacrimosas
Sendas da vida, em mágoas, sem encantos
Como sem luz e sem orvalho as rosas.
Ah! formidável lei cruel da vida,
Lei da matéria, da mudez das lousas,
Da eterna noite atroz, indefinida;
Tens o segredo intérmino das cousas,
E nessa dura e tenebrosa lida,
Oh! nem sequer um dia só repousas.
Quem sabe, ó morte, ó lúgubre, quem sabe
O teu poder fatal, desapiedado
Onde se oculta e se resume e cabe.
Pois nem que o céu puríssimo, azulado
Cair aos pedaços, tombe e se desabe
Na profundez do abismo ilimitado
E a crença humana espavorida, em gritos,
Palpando o nada, esquálida, gemendo
Rasgue a amplidão de estranhos infinitos,
Nunca da morte saberão o horrendo
Mistério rijo e surdo dos granitos
Os corações que vivem combatendo?!...
Não! A Ciência penetrou, o estudo
Do pensador, abriu mais horizontes
Nesse problema silencioso e mudo.
O pensamento constelou as frontes,
Deu a razão o mais brunido escudo
E construiu as luminosas pontes
De onde se vai, com grande olhar, seguro,
Atravessar as regiões sonoras
Dos Ideais que irrompem do Futuro;
E sem contar dos séculos as horas,
E sem temer as mil visões do Escuro,
Alegremente ao fresco das auroras.
Mas entretanto, ó meu amigo, escuta,
Toda a saudade, a grande nostalgia
Nos deixa frios, mortos para a luta.
Porque, olha, a morte é sempre uma agonia!
um abraço