domingo, 20 de dezembro de 2015

as ondas seguem o fluxo da corrente sanguínea

enquanto a tempestade de sábado
vence a seca contida em seus olhos

contemplo meu perfil rígido
no espelho grande da varanda
e não me reconheço

sim, contudo, o mesmo rosto de antes
mas essa fala estancada

tão exposta
é frágil demais para nós

laços dados e cadarços roídos
chuva tímida antes das três

analisei as dívidas
e cobramos demais dessa ternura
que nos acoberta a noite

pensei em te enviar uma correspondência
os correios saíram de greve

o coração faz manifesto
mas há quem cale os segundos

enquanto o deserto habitar sua face
a tempestade é formada por areia

os castelos permanecerão ruídos na praia
a onda é quase mansa

só o protesto é sem antídoto
pra ressaca de um verso cardíaco

2 comentários:

  1. A ternura tem o valor de um verso extenso que passa e repassa sob as águas do que é ou pode ser imenso. Pensei em pintar teus versos e pintei protestos, quem em seus inconsequentes manifestos, foram calados em um segundo ... e assim é o mundo nosso, suspenso por um sistema cardiovascular.
    Cava e cave para comemorar as festas.
    Saudações e até sempre.

    ResponderExcluir
  2. "pensei em te enviar uma correspondência"

    Pensamento diário de todos os poetas desgraçados.

    ResponderExcluir