Vida de Isopor
Tinha um anjo em minha vida, não era família, amiga ou coisa do tipo, era meu anjo. Era bem mais velha do que eu e tinha o rosto bem enrugadinho, marcas que o tempo deixou. Tempo cruel, fez com que o meu anjo ficasse cansado. Seus olhos eram escuros e desconexos, quem os encarasse, se perdia. Quando sentava para conversar, ficava por horas proseando comigo, meus olhos tão grandes ficavam a ver aquele rosto marcado e um certo vazio. Ela sorria e seus dentes postiços cintilavam juntamente com meu semblante, que se abria ao perceber o quanto eu amava aquele anjo. Amor Puro. Amor de apertar o peito e me fazer louca se ficasse um dia inteirinho sem te ouvir. Oh, voz tão finíssima, minha cantiga de ninar. Eu ficava horas falando dela para o meu diário, por vezes manchei as palavras escritas com a caneta, pois as lágrimas corriam por meus olhinhos.
Em um dia muito bonito, rosado e abafado, me dediquei a fazer um presente para meu anjo, uma casinha vazia por dentro, mas por fora, muito bem modelada, feita de isopor. Pintei com as tintas, beijei cada aresta daquele simples lar, era o coração de meu anjo.
Botei um laço de fita nos cabelos, vestido mimoso e sapatinhos de verniz. Sentei na varanda, que estava iluminada por tímidos raios solares e esperei o anjo. O relógio fazia tique-taque, tique-taque. Meu coração não fazia barulho, mas batia tão rápido, estremecia pelo batimento mudo.
O sol sumiu, o vento entrou berrando pela janela entre aberta, só conseguia ouvir o grilo a reclamar pelo lado de lá. O telefone tocou e corri com euforia, como criança em busca de doce. Foi quando recebi uma notícia e branca como parede branca recém pintada fiquei envernizada. Arregalei os olhos e sem poder encontrar ar, a garganta se abriu. Gritei ilusões tão altas. Mudo.
Eu sou aquela casinha.
Amei, como só é possível amar tua essência.
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