terça-feira, 29 de outubro de 2019

olha

te vejo cavando esse buraco, 
corcunda, 
guardando uma mágoa 
que não é sua 
e de mais ninguém agora, 
seu desejo liberdade 
eu te vejo buscando os poemas 
diante deles você sorri 
como se o mundo 
fosse uma brincadeira 
sem gosto você entorta o rosto 
e queima por dentro, 
te vejo enfrentando 
o mundo só 
e se afastando 
até de si, 
te vejo abandonando 
o mesmo mundo
com os mesmos olhos 
que te vi amar 

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

flores

me sinto como aquela criança insegura 
de pavor nos olhos e de mãos buscando uma flor 
eu as acariciava e encostava o rosto no perfume 
eu amo as flores como a mim 
mas as vezes não fui delicada comigo 
eu me afetava como o mundo afeta as flores 
mas eu ainda me sinto aquela criança 
com o olhar apurado e com flores em busca das mãos 

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

a asa branca ressurgia 
os doces das vozes 
os gozos dos poetas
o meu gozo de poeta 
mela um poema 

sábado, 19 de outubro de 2019

meu coração de poesia
é como uma pluma 
numa tempestade 
"O todo parece, ao mesmo tempo, não ter sentido
e ser completo. Longe, longe de ti se desdobra a
história mundial, história mundial da tua alma".

Franz Kafka

o dia se debruça sobre nós 
secretos jovens carregam suas mochilas
uma criança corre na areia 
nós também parecemos acordar 
o dia e o café estão bons 
e tudo parece a calma do mundo 
imaginada em nossas mentes 
o absurdo parece que nos é corriqueiro 
e nossos corpos se adaptam ao calor 
avisamos que estamos acordados 
o dia e o café parecem avisos 
as crianças gritam e os cachorros 
não se contentam com coleiras 
a liberdade não tem nós 
não tem espaço neste mundo 
que nos possa caber 
mas tudo é tão grande 
que pode nos acordar 

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

no momento em que escrevia

em frente à barata ribeiro ou à rua que leva à barata eu me sinto com vontade de mar e me sento mensurada, um senhor com um carrinho nas mãos pergunta se eu sabia das notícias, disse que eu era inteligente, ou melhor que devia ser, e precisava saber que cairia um meteoro, disse que ninguém o escutava e eu disse que entendia, ainda mais com aquele barulho de maratona, pessoas correndo e o mar revoltado, ele parou alguns instantes para pensar em mais alguma coisa e seguiu com a notícia. eu decidi que iria tomar um chopp, atravessei o calçadão e perguntei no quiosque se poderia fumar, o rapaz me diz que melhor mesmo é parar e faz um gesto, eu sorrio como sempre, existem coisas que nos é nata, comigo é sorrir sem precisar de graça, eu me sento, o chopp chega e eu me sinto como o mar que deita na areia e some, começo a escrever sobre me sentir bem, disse que a tristeza reapareceria mas não naquele momento,