as luzes desse sol negro
refletidos de seus olhos vibrantes
as ovelhas caminham e saltam
os pastos não serão como antigamente
estão mudados e os animais humanos
mais intensos, hirtos,
o labirinto de um só caminho
a velha história contada diferentemente
fizemos de nossos corações
poças de palavras
meu cheiro de domingo
recomeça e fizemos mais nada
do que faríamos
além disso seu corpo incandescente
ilumina os nossos olhos vidrados
nosso baile todo dia
parece que não dorme
a manhã acordou contigo

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019
sábado, 7 de dezembro de 2019
reflexos
os poetas só têm escrito um poema
por mês ou por vez
e o outro me olha sorridente
depois de ganhar um livro do Gautherot
me chama para fumar um cigarro
e assinar meu livro
enquanto fala da fluidez da aquarela
nós fumamos três
e na despedida
eu não peço que fique
eu tenho deixado que o fugaz
seja motivo para fugir dos eventos
por mais que tenha me sentido lisonjeada
pelo entusiasmo ao dizer que eu era legal
e que eu devia saber disso
no dia seguinte eu cancelo as provas
eu invento motivos para não aparecer
eu esbarro com o outro no bar
seria surpresa se fosse outro lugar
ouço da outra quina o barulho dos beijos
enquanto falo sobre a arte na China
e penso no quanto tenho me tornado
uma pessoa indiferente
eu que vivo a sensibilidade
sinto evaporar meu suor
e a vontade de fechar os olhos
eu esqueço que simplesmente existo
até me olhar no espelho imundo
eu me reconheço pouco
parece que além de legal eu sou bonita
quarta-feira, 4 de dezembro de 2019
O beijo no envelope
que se entendam os amantes
mas eu não tenho tempo
para abdicar o amor
enquanto o beijo termina
e a linha tênue entre amar e desespero
me faz querer ler outro romance
eu quero mais e
eu posso estar em todas as cenas
apenas com a força da minha fantasia
e o bilhete único,
eu embrulho o presente
e entrego outra carta a ninguém
peço que preparem o gin
e apertem os tabacos,
eu me entrego na carta
e ninguém mais lê,
assim eu retorno ao primeiro encontro
e todos voltam ao sentido do fogo,
assam seus jantares
e cobrem os olhos antes de acordar
eu faço poesia como reprise
e organizo a minha presença,
a festa acontece,
outros rostos se encaram
os corações se embrulham
e entregam cartas sem destino,
parece que felizes para sempre
só acontece enquanto assisto
esse beijo que encerra
nos dedos
o sentimento do mundo
carrego nos dedos
o sentimento parece
de uma pequena criatura,
de olhos aparvalhados
de coração drenalizado
o sentimento eu carrego
o que é
pra mim o mundo
eu me pergunto
o que fizemos
das nossas delicadezas
o que fizemos
da espuma e do sal,
do brilho entardecente
dessa piscina vazada e calma
os corpos não se jogam,
o que os empurra
é a coragem
daqueles que foram negados
o sentimento próprio do mundo
daqueles que boiam
e comem ovos na ceia,
eu deveria ter apostado tudo
mas me submeti
a encenar a derrota
eu fracassei
só para me sentir
menos frágil
são nesses instantes
em que o olho
do furação
me olha
e arremessa sua fúria
eu sinto os ossos esmagados
tentando escrever mais um título
apostando o que não existe
em um jogo marcado
para que todos os vencedores
se sentissem
a derrota
eu abdiquei
até a dormência
que me fazia
sentir a paz
paz que eu nunca teria,
pois eu carrego
o sentimento do mundo
terça-feira, 3 de dezembro de 2019
Ana e o Mar
ao fundo azulado
às margens a larga praia
disforme teu corpo de areia
maresia o perfume teus olhos
tamanha ternura chorei junto ao mar
miragem o brio pincelada
merecia moldura tuas jóias
teu tesouro revestido pele e seda
teus contornos à mão e véu
verão suei inteiro assistindo
imaginei que não mais estivesse viva
pois o mundo era incapaz de tanto sonho
pensei que havia morrido nas águas
eu fechava os olhos e te via límpida
soava como uma onda atravessada
tu sorria e o céu escorria de tormenta
e me abraçava o sol e as ondas
e me engolia o sal e as espumas
e eu roçava nas conchas
eu beijava os corais teus lábios
devo ter esquecido do título
tenho achado os poemas chatos
é natural chegar a esse ponto
tendo que arranjar outra distração
para não fazer a Sylvia
ou arriscar fazer a Virgínia,
por aventura a César...
ainda não sei mas eu ainda
quero criar um novo modo
de fazer isso valer
eu tenho esse papo torto
e acho que eu tô desanimada
pra cacete
não sou locadora
pra ficar alugando
mas pareço aquela garotinha louca
pelo terror e pelo cabeludo da CAVIDEO
eu só queria que a minha cabeça
não acordasse doendo tanto tanto tanto...
só de pensar parece que eu tô inflamada
e que não precisasse querer acordar
no meio do sonho enquanto
eu fugia do Veloso e encontrava
biscoitinhos no banheiro
os banheiros são a miséria
lá a gente esquece que tá vivo
e deixa rolar
eu tô pensando merda...
as vezes pareço com aquele velho
que apostava nos cavalos,
alguns dirão ser o Buk mas
eu acho que era o meu avô
mas eu não o conheci para ter certeza,
eu só lembro da cadeira de balanço
e um silêncio de túmulo e biblioteca...
voltando ao velho Buk ou
o guardador de pássaros azuis
ele era um velho safado e alcóolatra
e eu lembro de uma vez estar na Bambina
fumando unzinho em frente à DP
chegou um cara de jaqueta de couro
típico crítico de bosta dizendo
que o velhote era só um reclamão
eu acho que eu tinha recitado um poema
que ele achou ser do velho
aliás eu sempre recito um poema
quem me conhece sabe
e acho que eu já enchi muito o saco
com essa coisa de poesia
e não adianta eu criar um nome
para isso
para essa síndrome
então me arrisco a dar nome aos poemas
tenho pena de mim as vezes
e fico achando que os outro também
ou é pena pelo mundo todo
e isso acaba refletindo em mim
eu realmente não sei mas talvez
seja por isso que eu precise esquecer
se não eu realmente vou fazer Torquato,
eu vou fazer Florbela,
eu também bebo e penso sacanagem,
mas eu não quero mais pensar
eu queria esquecer os poemas
e o porquê de ter começado mais um...
triste não é viver de solidão
nos acostumamos com a tristeza
e brindamos a ela sorrindo
deixamos que ela ganhe nome
e lugar no assento preferencial
e a medida que vamos morrendo
ela se torna amigável e besta
nos encoraja a escrever capítulos
a esperar o sinal abrir
assim desfilamos
assim nos sentimos
mais acompanhados
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