Destino

Um sonho há de orvalhar 

a pálpebra do poema, 

o sino, a sina, 

         sinônimos do desejo. 

Haverá o dia em que o esquecimento, 

         singela textura do lampejo, 

se recordará 

do canto de um olhar. 

Um dia há de cintilar 

aquela palavra que eu reservei 

para despir a ti, íntima, 

           Destino. 

Ele está de volta

aos que dizem –

Ele está voltando, 

vos digo que o procuro

há tempos, até entre o vão do carpete 

provocado por aqueles que o crucificam. 

sinto onipotente 

a presença dele alada 

que me parece povoada 

pela imagem translúcida de uma asa,

me alio ao seu vulto onipresente pela casa. 

Shakespeare, RJ, 2024

Na praça XV Ofélia 

se inundou no ponto do 309 

Mini-cabra

prezo demais pela feição poética,

afeição, disfunção estética,

aversão sintética. a síntese 

e o desmame. o peito da poesia

que não me desgarro, ainda hoje! 

como uma mini-cabra a saltitar 

no canto da página de um desenho

inanimado com espanto a face aturdida 

prezo não ser a próxima a ser abatida. 

Antes de conhecê-lo

quero a revolução da beleza

que enxerguei em seus dentes 

trincados, dormentes. 

o susto que tive ao revirar 

a dobra do papel 

e me deparar

com a nossa sombra. 

quero a resignação do sonho

que ilustrei antes de conhecê-lo.