sábado, 30 de julho de 2022

tudo o que leio teu é como se fosse a primeira mordida

toda vez é como se 
eu não te conhecesse

você é um completo estranho 

você se apaga 
você é uma notícia inédita 
dentro do televisor  

te assisto e você parece aquelas
caixas dentro de caixas
dentro de caixas

[vazio]

o que você deixou 

sexta-feira, 29 de julho de 2022

para onde vão os trens, irmão?

uma ausência 
dependurada 
do quarto 
andar.

reparo
a grade da janela 
segura.

quem 
de nós? 

escapamos
por um fio
de arame. 

você 
tem medo 
e por que 
não me olha? 

onde 
você 
quer que eu me esconda? 

minha angústia de quatro patas protegida por quatro paredes tem quatro meses 

que você não me diz
para onde você pensa que vai? 

enxaqueca

do lado direito da minha cabeça
você latejando 

não, não na minha cama 
nunca te deixei dormir 

e de modo algum do lado esquerdo 
onde se reserva vaga para o coração 

na memória não se pode confiar 
ela nos dá golpes de estiletes

me diagnosticaram com enxaqueca
que nome esdrúxulo

olha só você 
enfiado nos meus sentimentos 

me dando chá de quem sabe um sumiço
eu adoraria tomá-lo

quem sabe um sono de anos
você dentro de mim pulsando

olha só eu 
nem me lembro 
quando foi que eu te esqueci 

terça-feira, 26 de julho de 2022

colheita

vejamos nossa solidão
aqui do lastro desta nuvem 

as lápides com os nomes
ilustrados 
os nossos 
sobrenomes

vejamos que não passou
aquilo o que chamamos de saudade

apenas uma folha se desprendeu
mais uma vez 
o adeus 

você me pronuncia 
e eu o acolho 

domingo, 24 de julho de 2022

cactos e poemas

quase nada se limitou ao tempo, a não ser
ele mesmo

percebamos que nos cactos persiste 
a delicadeza pronunciada que desprezamos,
ou fora dela mesma 
repreendida 

embora hemos de colher o mel daquela fruta
esquisita, e de inflingir o instinto 

nossas mãos, ainda que enluvadas 
por espinhos, hão de farejar afagos - 

os apáticos nos impuseram a prova 

sexta-feira, 22 de julho de 2022

seria o meu fim

uma cerveja no freezer
o meu frenesi 
não cessa

ele apagou o meu número 
eu apaguei o seu rosto

na areia
de rostos
identificáveis

se sou eu quem fiz
dos grãos 
das costas
das costas

quem dera se eu tivesse o teu não

quinta-feira, 14 de julho de 2022

encontro um astro em teu umbigo

que se revele o universo 
encontrei-o em teu umbigo

o teu rosto
posicionado ao sol
feito uma flor sedenta

é completo degelo, árduo 
escuto o teu chamado 

dura uma eternidade 

e nada mais precisaria ser ouvido 
a não ser o eco 
teu umbigo 

sábado, 9 de julho de 2022

louva a Deus

às noites de sexta 
geme um louva a Deus 
os seus pecados
da janela

eu o agrido com o meu silêncio
baforando meu Minister 
é tão superficial
aqui de cima
olhar o Cristo
e dizer eu sou mais uma
que não sai dos seus pés

o louva a Deus 
bicho gozado 
todo melodramático 
se despede com as asas 

quem sabe seja ele quem 
seja o primeiro a encontrar 
o paraíso 

quinta-feira, 7 de julho de 2022

terça-feira, 5 de julho de 2022

um corpo só

escrevo-te 
sob a luz do quarto
translúcido
o teu rosto
sob o meu quadril

você me esbarra 
é como se um copo de vidro
se estatelasse 

a tua voz
coisa igual
só o silêncio
das horas de pico

você se posiciona
ao meu lado
e eu sempre só
chamo-te 
como quem se estatela

segunda-feira, 4 de julho de 2022

ternura


as margens dos teus lábios
traçar bordados

a lua terna 
no seio da noite 

teus olhos
tão mencionados 

inauguram a manhã