terça-feira, 31 de agosto de 2021

história do olho

o que sei de ti 
é o que desconheço

lembro da sua mão 
fugitiva no meu braço
enquanto contava 
a história do olho

pingo uma gota 
de colírio nos meus
mas penso 
que alívio seria

ver a ti uma vez 
mais denovo 

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

antes de vivir el sueño el sitio

los pájaros 
picotean y sorben 
nuestra casa 
soledades 
a la puerta de bocas
descansado 

pensé que nunca nos ubicaríamos. 

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

aliança

os homens armam 
furos nos tecidos 

da fachada miram 
o revólver

corações rompidos 
vigília 

confiam na guerra - 
que de lá herdarão a paz

não falo de paixão

olho nos olhos dos homens 
que não me olham nos olhos 

acredito que caminho 
é não ter 

domingo, 15 de agosto de 2021

gosto do nome búzios

medo de te esquecer
antes do ônibus pousar 
até de onde vim não recordar 

ser a palavra infalível 
pensar que você será 
o menor dos meus descuidos 

nadar

quando o barco
afundar 
a gente 
aprende 
o meu coração
paralisa 
nas mãos 
das palavras: 

decoram 
o estrangulamento 
a minha estação predileta 
floresce dentro das tuas pernas 

proibida

calculo os cigarros 

não falo das cinzas

sozinhas 
as guimbas
apontam 

aponto 
a este amassado 

na ponta do quarto
buscamos o isqueiro

limpo o cinzeiro

há quem diga que eu te deixei 

eu, meu gato e a nossa impressora

assistimos à morte das orquídeas
o mais improvável sucedeu 
na mesa da sala
eram flores plastificadas

mas eu não deixei de passar o café
furei a garganta de um só gole
agora fumo o cigarro
que amarelou o dedo esquerdo 

em cima de uma lata 
o sol quebrando o branco das fachadas
mal sabem da minha facada 
da morte das orquídeas falsificadas  

sexta-feira, 13 de agosto de 2021

o que fizemos das nossas delicadezas

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quinta-feira, 12 de agosto de 2021

babel

não há verão ameno neste pedaço 
extenso de terra batida

não há calor que supere
este suor pesado na testa

esta porrada do sol apontando

o que você chama de casa 
incendiou a sua casa 

o que eles chamam de amor, 
não há verão senão o apagamento 

não quero 
ser o centro 
desse poema 

mas olha só
onde me coloquei 

domingo, 8 de agosto de 2021

ciclo das águas

ser 
como 
um rio 

engolir 
o finito 

saber 
ser 
o seu 
princípio 

jorrar 
o indício 

saber 
não 
ser 

e assim
mesmo precipitar 

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

a porta aberta

aparentemente 
você está 
sempre 
arrumada
para ir embora

vejo a sua mala
onde guardamos as roupas 

me parece sempre mais cheia

e você com esse botão fechado
parece me dizer 
do coração 

quer eu desvie o olhar

eu me proponho 
a porta está logo ali dentro 

aparentemente 
você está 
sempre 
pronta 

segunda-feira, 2 de agosto de 2021

esquife

se há um medo que amordaço 
nos dias suados, áspero

nos dias envernizados 
é o da minha solidão 

as cobertas não encobre
-nos

ela dorme 
sem os olhos descansados 
com o sono dos que estão cômodos

há este medo que se ouve do outro lado
muda, corcunda, envolta em meus braços 

a lucidez me obriga
a chamá-la 
de minha 
ainda mais assim rente ao corpo 

as vezes ela decide 
sem abrir a boca 
engolir o mundo
-nós 

de uma só bocada 

eu procuro as pílulas, leio as bulas 
me interesso por quadrinhos 
e penso em esburacar as paredes 

penso em esperar que ela volte 
para o lugar estreito
e comprimido de sempre 

eu própria não regresso
eu própria arregalo a boca e nos devoro