terça-feira, 29 de junho de 2021

declame todos os poemas que forem meus

as vezes eu imagino
com demasiada ternura
pois nunca esqueceria do seu corpo 
e o corpo no espaço
que você escreve versos à mim
todos os dias antes de morrer 
crio que você me inventou um planeta
próximo ao meu nome 
as vezes eu imagino
que quando você lambe o amor
é o meu corpo que recita 
e eu me sinto egoísta 
mas me sinto grande
como nunca imaginei a distância 

uma fotografia rasa

gullar levou 30 anos
para pensar numa fotografia aérea
e 1 ano para escrevê-la

você levou 3 meses
para encontrar a paixão 
e 1 dia para esquecê-la 

domingo, 27 de junho de 2021

página virada

que não falemos mais de amor
comecemos pelos prazos 
passou-se três meses 
das suas juras 
depois saltamos às dívidas
te devo 100 contos
que falemos da primeira vez
que eu te peço para ajustarmos 
os pontos finais 

sexta-feira, 25 de junho de 2021

S. Gg

investigo 
os rastros
autobibliográficos
deixo 
escapar 
a vida morte
a ficção vida
a ficção morte
penso no seu e o meu
pequenos fins 
vejo os zumbidos
que as máquinas
e as paredes 
e o fios
à tua à minha espreita
no pacto 
na morte vida 
do autor 

quinta-feira, 24 de junho de 2021

morrer de amor é karma

me interrogo
te espreito
lançado 
ao lado 
esquerdo 
da cama 
de casal
se fora 
da cama 
se dentro 
do seu peito
há algo 
ainda mais suspeito 

me lanço 
o corpo 
à hipótese 

terça-feira, 22 de junho de 2021

...

tripas cruzam as pernas
olhos cor do mar vermelho 
dedos involutários
escreveram 3 poemas 
o coração

esse não se move desde
a última vez 

amarelo

a mesma pasta amarela 
dentro de um museu e 
o meu quarto alegórico

espero acordar 
antes do Sol
mas não antes 
de Você chegar
como quem deseja 
despejar a dor amarela 
no copo translúcido 

disseram que a bagunça
espanta os fantasmas
digo o contrário
acredito nas fantasias   

corvo

(tudo o que amei, 

amei sozinho) 

era Poe 
em uma taverna
com uma cerveja escura 
e quente na mão

eu posso sentir 
a mesma solidão 
daquelas que é precisa 
para não endurecer 

se não 
a gente 
vira gado

se não 
a gente 
vira cardume
empilhados 
dentro de 
latinhas 
dentro 
de um 
depósito imundo 

e eu sempre 
fui aquela 
que olha para os lados
só 

atravesso 
antes 
de todo mundo 

domingo, 20 de junho de 2021

sábado, 19 de junho de 2021

bom dia

eu havia te prometido 
uma carta de amor

embora também 
tenha te prometido 

acordar de bom humor
mas você sabe 

eu não posso cumprir 
as promessas pela manhã 

terça-feira, 15 de junho de 2021

as mãos são protagonistas do adeus

quero desaparecer 
na hora acesa do adeus 

o meu gesto
se retrai:
refém
das mãos
decoradoras de despedidas 

mas vejo reluzir
o seu anel de herança
o meu coração se ameniza: 

há de concordar
com o brilho desse aceno 

reconstrução

quando eu te olhei
com os olhos 
de costurar terremotos

foi pra mostrar
que uma mulher
abalada 
ainda constrói uma cidade 

terça-feira, 8 de junho de 2021

a história do beijo

pela primeira vez 
que fechei os olhos
dois dias antes de eu nascer 
trocaram o meu nome

voltei a ser o que eu deveria
ter sido

da segunda vez
apagaram as luzes 
o vizinho tinha 
o mesmo nome 
de guerreiro que o meu

mas na terceira vez 
com os olhos fechados 
ousei abrir a boca: 

- a minha língua descobriu 
o que era passear sob as águas

segunda-feira, 7 de junho de 2021

bambolê

os meninos dentro do sol
espreitam os seus rastros 

o que seria do amanhã se o sol 
e os meninos dentro dele 
não tivessem nascido? 

de dentro do arco
o tempo faz a ponte entre
o que eram aqueles meninos

e o que há de mais terno 
neste retrato animado:
a miragem dos meninos 
crescendo dentro do dia