quinta-feira, 29 de abril de 2021

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016
última parada

canto
da rua 
fora do rumo 
o equívoco
me leva
ao corpo
almejado
seu 
passo brando
retorno à memória
beiro a distância
predestino a história
já mais vívida 
avanço
mantenho
os passos
e acho estúpido 
o descuido
cruzando 
nossos caminhos
colidindo 
nossos corpos
confusos 
da rua 
você para
o pensamento 
e me vê
apressada 
suando 
de frio
calor
a hora do almoço
você passa 
será 
qualquer 
o motivo
mudo
de calçada
vazia
você
também sorri
assim
esticando
os lábios 
pro canto
pressionando
a pele
na parede
as folhas 
subindo
descendo 
os troncos
as curvas
desvio
aqui 
seu
sorriso
virando
a esquina
paro 
ali 

juntos

a sorte 
de um amor 
deitado 
na sombra

olhar 
os teus lábios
de achar poemas 
perdidos

noites 
de carnaval amor
sem forma
não vejo 
a hora 

do mundo
acordar 
e a gente também 

quarta-feira, 28 de abril de 2021

algum lugar no qual nunca estivemos

você fala de amor 
feito uma criança abrindo 
o álbum completo de figurinhas

declara a despedida 
como se já soubesse que nós
nunca nos encontraríamos

talvez algum dia você me ouça 
recitando um poema
que pareça ser em vosso nome 

talvez o poema seja 
algum lugar no qual nunca estivemos 

segunda-feira, 26 de abril de 2021

miúdos

guardo for me amar 
não esqueça das fronhas 
de trocá-las 

da chave na porta 
gire-a 
de varrer os pelos do gato 
os pelos e o gato estão no tapete 

de cortar as mangas 
as mangas maduras
todas 
chupar os dedos
todos 

antes e depois de fazer-nos gozar 

sábado, 24 de abril de 2021

dilúvio

te aguardo
com o coração áspero 

faço das minhas mãos
o teu aquário: 

nosso dilúvio 

segunda-feira, 19 de abril de 2021

meu monótono viver pede passagem

ainda que sangremos 
às 4:
40 
o 4 3 9 
estará estacionando
não 
meu bem
para esperar
que a gente embarque 

mas a seguir o rastro do dia 

eu 
por mim 
já não 
me importo 
se o sinal fechou
antes da bicicleta elétrica 
queimar o dorso
dos meus pés
fora da calçada 
ao contrário

viro a face faiscada 
e vejo de bruços 
o debater
infalível 
da natureza 
apressada 

meus planos 
nunca foram 
de dar certo
de estar correta 
mas 

tem dias que a vida faz questão
de me esfregar a sua graça 

domingo, 18 de abril de 2021

principio

mergulho no sem-fim 
ao teu nome atracado 

penetro em teu corpo
feito uma primeira dança 
numa bicicleta azul 

há de existir algum caminho
que não termine 

sexta-feira, 16 de abril de 2021

quinta-feira, 15 de abril de 2021

Nos fundos o som da flauta

a casa 
permanece imóvel 
algo está suspenso
não há o que dizer 
da alegria hospedeira 
no resto da outra janela 

se os vizinhos 
decidem se jogar
o menino flautista 
da cobertura 
toca a marcha fúnebre
que por acaso é a única música
que aprendeu por morar na cobertura 

no parapeito 
uma mulherona fuma e bebe
qualquer hora do dia/noite/
permanece o recorte 
de uma revista manchada no vidro

o amor revisitou 
a nossa cama 
algo está dentro do lugar incomum 
vigio a sacada e monitoro 
o último instante 
em que os pés 
estiveram ao chão 

quarta-feira, 14 de abril de 2021

leviana

não saber por onde começar 
anuncia o poeta 

que pouco fez senão gozar
da sua condição de louco 

da mão que quase não se move
dentro de um cobertor fino 

mal estive abocanhada pelos dentes
mas de bem o que colhi

foram os olhos fechados da noite
me comendo fria 

não saber por onde ter fim 
anuncia-se um lugar no poema 

sexta-feira, 9 de abril de 2021

não diga que não te avisei

segura minha mão até a rua terminar 

esse barulho louco? o meu coração

nunca te contei desse sol que combina 
com a tua íris luzidia?

olha só que descuido essa rua no fim

e nós de mãos vazias

segunda-feira, 5 de abril de 2021

no semblante algo além do desejo

você me olha 
cerimoniosamente 
como quem rasga 
o corpo vermelho cintilante 
de uma bala de licor: 
 
ainda nos salva o que escorre 

O poeta espião

se você vem às duas

por exemplo 

desde antes de você dizer que vem 

eu estarei à sua espreita